Teoria de Relações Internacionais e Economia Política Internacional
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Teoria de Relações Internacionais e Economia Política Internacional


Talvez,em virtude da multiplicidade de realidades que tenta compreender ou explicar, as teorias em relações internacionais sejam também multifacetadas.Exemplo quase que cotidiano disto é a imprecisão no uso do vocabulário da ciência.Muitas vezes termos são usados de forma intercambiáveis quando,na realidade, partem de enfoques conceituais distintos e até contraditórios.

Primeiramente é importante aceitar que as teorias são maneiras de se compreender a realidade mundial.Assim,se caracterizariam como grandes lentes que os analistas utilizam para ler o mundo e como tal,essas lentes,podem dar importância para alguns elementos em detrimento de outros.Há também a possibilidade,aliás muito recorrente e positiva para as ciências sociais,destas lentes,à medida que,a história “progride” se tornarem inúteis para enxergar a atualidade.Em uma palavra as lentes “riscam” ou ficam “fracas” até que alguém produza outras novas e as ofereçam nas academias de todo mundo.

Uma crítica pessoal à literatura de Relações Internacionais é o seu caráter de criar denominações que,na maior parte das vezes,pouco elucidam o entendimento sobre o que se deseja ensinar.Os exemplos sobejam:Marxismo,Interdependência Econômica,Capitalismo Mundial,Positivismo Empirista,Comportamentalismo,Globalismo e,nisto infelizmente somos muito criativo, a lista é assaz extensa para ser posta aqui.

Sobre uma coisa não pode haver dúvida:Quando se cogita sobre Teoria de relações internacionais estamos tratando de tradições de pensamento Realista,Universalista e Internacionalista;ao passo que,quando se cogita sobre Economia Política Internacional estamos tratando de Liberalismo,Marxismo e Nacionalismo.

Uma vez isto posto,convém,baseado em Hedly Bull,desatrelar estes conceitos que,freqüentemente,se unem ao campo um do outro sem nenhuma justificativa palatável.

Conforme ensina o professor Bull,a tradição realista das relações internacionais se assenta no texto “bíblico”de Thomas Hobbes, O Leviatã.

Basicamente para Hobbes os homens são iguais e guiados por paixões que os tornam egoístas e violentos.Em uma situação de ausência de um Estado garantidor da paz interna os homens entrariam em permanente estado de guerra de todos contra todos (homo homini lupus) mas,em virtude, do medo que têm da morte violenta os homens aceitariam deixar sua liberdade absoluta em troca de um pouco de segurança.O Pacto em que os homens cedem alguns poderes para o Estado em troca de proteção é chamado de contrato.Ocorre que,os Estados por sua vez,no campo internacional não abrirão mão de sua soberania-entendida como a liberdade para definir os seu próprio destino- em troca de segurança ou do que quer que seja.Neste sentido o raciocínio de Hobbes permite concluir que,cedo ou tarde,haverá guerra entre os Estados já que o plano internacional é anárquico e destituído de um poder superior que garanta a segurança.A paz só pode ser conseguida através de alianças precárias para a manutenção de um equilíbrio de poder.Hobbes em seus escritos não deu muito espaço para a importância da ética,do direito internacional ou da Moral,sua afirmação fundamental é que os Estados movem- se,conforme a lógica de maximização de poder Estatal.

A tradição universalista tem sua matriz no texto A paz pérpetua de Immanuel Kant.Este filósofo alemão entende que o indivíduo é ator internacional relevante.Kant argumenta no sentido do potencial cooperativo dos homens,embora ressalve que os Estados vivam em permanente predisposição para conflito,a partir do momento em que os homens começarem a agir de acordo com os mais rigorosos preceitos éticos e morais o problema do conflito se dissiparia.A sociedade de Kant comportaria a totalidade dos indivíduos formando uma comunidade universal.

A tradição internacionalista,segundo Hedley Bull, encontra sua fonte em Hugo Grotius com a obra do Direito da Guerra e da Paz.Essa tradição tem como característica o meio termo entre as duas tradições.Se pensarmos em termos de dialética,teremos a tese(realista),a antítese (universalista) e a síntese (internacionalista).Grotius concorda com Hobbes de que os Estados são os atores mais importantes embora aceite que não são os únicos,e concorda com Kant de que há cooperação e não somente conflito.Com relação à cooperação Grotius afirma que existem valores culturais que fazem com os indivíduos cooperem entre si,enquanto a guerra deve ser tratada do Direito internacional.

Em Hedley Bull não a a preocupação com conceitos econômicos mas sim políticos.No entanto,seria injusto não tratar dos conceitos de economia política internacional que auxiliam na compreensão da dinâmica dos Estados.

O liberalismo,enquanto,conceito econômico parte do pressuposto que o individuo é a base da sociedade,o mercado é o regulador natural da economia e a liberdade é o meio e o objetivo da política.Ora,essa assertiva pode,como tudo o mais,ser aplicada tanto à tradição realista,quanto a universalista.O que define a utilidade destes conceitos é o seu uso para conseguir vantagens polítcas.

O marxismo,oferece maiores dificuldades para a aplicação nas relações internacionais pois para Karl Marx seria ilógico criar uma teoria que tratasse somente do aspecto internacional uma vez que,em seu entendimento, todas as dimensões da vida em sociedade deveriam estar articuladas em um todo complexo cuja fonte explicadora seria o modo de produção capitalista.Não obstante a ponderação de Marx, Vladimir Lênin contribuiu com sua teoria sobre o imperialismo para explicar os motivos econômicos das potências capitalistas que levaram às guerras durante o século XX.Além disso,em Lênin temos um olhar estratégico sobre as relações internacionais para a propagação da revolução socialista.

A vertente marxista ainda joga mais luzes no campo internacional.Durante os anos de 1940 foi criada pela ONU,com a finalidade de explicar o subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo e propor soluções, a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).O que se convencionou chamar de Teoria da Dependência se baseia na análise econômica que nega o argumento Ricardiano de vantagens comparativas.Em poucas palavras,David Ricardo argumenta que as diferenças entre os níveis de industrialização das economias dos países seriam compensadas pelos ganhos de competitividade provenientes da especialização e conseqüente redução dos preços no mercado internacional.Na prática, a Cepal demonstrou que somente os países subdesenvolvidos transferiam seus ganhos de produtividade sem qualquer contrapartida dos Estados mais desenvolvidos.Acresce-se a isso o fato dos preços de manufaturados crescerem proporcionalmente mais do que os produtos dos países subdesenvolvidos o que traz o encargo ,cada vez maior,aos países subdesenvolvidos, de aumentarem suas exportações quantitativamente para pagarem a mesma quantidade de produtos importados.O que a equipe de técnicos da Cepal chama de deterioração dos termos de troca.

Ao fim e ao cabo,temos que teoria de relações internacionais e economia política internacional são distintas se trabalhadas como conceitos unitários,que contemple o recorte daquilo que se busca estudar.Mas podem e devem para enriquecer a análise ser usadas de forma convergente.Embora, seja neste caso, muito árdua a tarefa de separar alhos de bugalhos convém notar que para uma análise e formulação de solução,as coisas devem estar mais corretamente ordenadas do contrário perde-se no mundaréu de discursos políticos internacionais.

Fernando Moreira dos Santos
Alto,alto,alto



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