O governo norte-americano tem mantido desde 2002 centenas de prisioneiros sem acusação formal,incluindo doentes psiquiátricos, idosos com deficiência física e adolescentes. Ali vigora um sistema cujo único objetivo era obter informações a qualquer preço,principalmente por meio da tortura. É esta a conclusão de 759 documentos secretos divulgados pelo site WikiLeaks na última segunda-feira 25 de abril.
Professores e agricultores pacatos foram tratados da mesma forma que os autores dos atentados de 11 de setembro de 2001, escreve o diário madrileno "El País", que teve acesso aos arquivos secretos, assim como "The New York Times",o "Le Monde" e o "La Repubblica".Ao todo são 4759 páginas, escritas entre 2002 e 2009. Incluem as fichas de 759 prisioneiros, dos quais 170 ainda estão na base norte-americana localizada em Cuba.Alguns dos reclusos inocentes foram presos com base em informações obtidas sob severas formas de tortura,como choques elétricos,agressões físicas,exposição a calor ou frio intensos,afogamentos e privação do sono. Segundo o "The New York Times",um agricultor afegão, por exemplo, passou dois anos em Guantánamo por ter o mesmo nome que um comandante talibã. A prisão destina-se menos a julgar e punir culpados do que a tentar extrair informações a todo o custo, até de gente que não as tem para dar. Tanto assim é que, de todos os reclusos que por lá passaram, só sete foram julgados. Muitos estão detidos na base há mais de nove anos sem acusação formal algo que não sucederia sob um sistema penal normal que respeitasse a lei internacional. Como o presidente Bush transformou Guantánamo num “limbo jurídico” que não precisaria respeitar as leis norte-americanas, tampouco a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra, o presidente Barack Obama que assumiu prometendo o fechamento da prisão há mais de dois anos atrás tem ( mais) um problema nas mãos. O governo lamentou a publicação "infeliz" dos últimos documentos da WikiLeaks e afirmou ter "feito tudo o que podia para agir com o maior cuidado e o maior rigor na transferência de detidos de Guantánamo". Para aqueles que querem se aprofundar mais no tema é recomendada a leitura de “Diário de Guantánamo” de Mahvish Rukhsana Khan, advogada norte-americana de origem afegã que recebeu autorização para trabalhar na prisão também como intérprete dos detentos e lá colheu diversos depoimentos. Recomendo também o filme “Caminho para Guantánamo” de Michael Winterbottom que conta a história dos “Três de Tipton”, jovens britânicos de origem paquistanesa presos no Afeganistão e levados à Guantánamo sem qualquer acusação formal,sendo libertados após dois anos de torturas e privações graças a intervenção do Serviço Secreto Britânico. Segue o trailer:
Andrew Patrick Traumann, mestre em História e Política pela UNESP e doutorando em História, Cultura e Poder pela UFPR é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA.
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