Mundão
A força do lobby judaico e a questão palestina
Por Andrew Patrick Traumann*
Há cerca de duas semanas, no primeiro discurso de Barack Obama endereçado ao Mundo Árabe desde a morte de Osama Bin Laden,o presidente norte-americano se colocou inequivocadamente a favor da criação de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967,após a Guerra dos Seis Dias,admitindo um outro ajuste ou "troca de terras". A reação do governo israelense foi imediata: o premiê Benyamin Netanyahu afirmou que a volta à situação de 1967 era totalmente "irrealista" e que Obama "não conhecia a situação na região.".
Ao discursar ao Congresso norte-americano Bibi como é conhecido na política israelense foi sucessivamente interrompido em seu discurso por aplausos entusiasmados dos parlamentares especialmente quando disse que Judeia e Samaria (nomes bíblicos de partes da Cisjordânia) jamais estiveram em negociação. Mas o que faz Bibi dizer "não" ao homem mais poderoso do mundo de forma tão orgulhosa e ostensiva?
A resposta está numa sigla: AIPAC (American Israel Public Affairs Committee), o poderoso lobby pró Israel nos EUA. Em seu site oficial o AIPAC se orgulha de ter influenciado republicanos e democratas a aprovar "dúzias" (a expressão usada é essa) de resoluções pró-Israel no Congresso norte-americano," que impuseram duras sanções ao Irã nos últimos anos", "asseguraram que a venda de armas a países árabes jamais ameacem a supremacia militar israelense" (em outras palavras se certificando que as armas vendidas sejam de modelos ultrapassados),e aprovando resoluções no Congresso que assegurem a Israel o "direito de se defender", expressão mágica que tanto pode significar medidas legítimas de segurança aos cidadãos isralenses,como um mantra para acobertar ações em que Israel tem abusado da força como o ataque a Gaza em 2009. Com o AIPAC do seu lado,Bibi se sente seguro para dar as fortes declarações que deu,fazendo Obama,se não recuar,mas ao menos baixar o tom do discurso.
Israel,tido e havido por muitos como a única democracia do Oriente Médio,tem um grave dilema a resolver: não pode ser judaico,democrático e incorporar a Cisjordânia ao mesmo tempo. Como diz o historiador israelense Avi Shlaim, Israel terá que escolher entre dois elementos desta tríade.
Se quiser anexar a Cisjordânia em definitivo precisa decidir se concederá cidadania israelense aos milhões de palestinos que vivem cidades como Jericó,Nablus,Ramallah,Belém e Hebron. Se isto ocorrer provavelmente os israelenses se tornarão minoria em seu próprio país, afundando o ideal sionista de uma pátria judaica.
A segunda opção seria anexar a Cisjordânia sem a concessão da cidadania aos palestinos o que traria ao mundo mais um odioso sistema de apartheid,com milhões de habitantes privados de direitos civis.
Por último, há a solução de dois Estados apoiada pelos EUA,pela oposição israelense e organizações judaicas militantes como a "Not in My Name"(NIMN). Neste caso teríamos as fronteiras de 1967 como base,com Israel anexando regiões mais próximas a sua fronteira, e cedendo em troca outros territórios mais despovoados como compensação aos palestinos.
Apesar de Israel,um dos mais poderosos exércitos do mundo, afirmar que sua existência corre risco,a verdade é que a solução deste problema implica que ambos os lados tenham que fazer dolorosas concessões,e convenhamos,quem possui o poder político,militar e econômico para dar o primeiro e corajoso passo é o governo de Tel Aviv.
*Andrew Patrick Traumann,mestre em História e Política pela UNESP e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA.
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