Brasil discorda dos EUA sobre saída de Assad
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Brasil discorda dos EUA sobre saída de Assad



Publicado em 11/08/2011 na Gazeta do Povo

George Sturaro, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba).

As tentativas de negociação que Índia, Brasil e África do Sul (grupo denominado Ibas) vêm tentando fazer com o governo sírio são apresentadas como um esforço para conter a violência no país, mas também têm sido criticadas pelas grandes potências por serem muito concessivas. George Sturaro, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) concedeu entrevista por e-mail à Gazeta do Povo sobre essas negociações diplomáticas.
O tipo de negociação dos Ibas com Bashar al-Assad é o procedimento-padrão na diplomacia? Insistir tanto na conversa em vez de aplicar sanções?

Esse tem sido o procedimento- padrão da diplomacia brasileira.
No Ministério Relações Exteriores, prevalece o entendimento de que sanções são uma faca de dois gumes. Ao isolar o país-alvo, as sanções políticas podem dificultar futuras negociações, além de servir de pretexto para a radicalização. Já as sanções econômicas podem afetar mais as populações que os governos.

Essa negociação não dá margem para o governo sírio ganhar tempo e insistir no regime autoritário?

Sim, dá tempo para o governo sírio recuperar-se, mas também para rever suas posições. Lembremos que o presidente Assad reconheceu que a repressão aos protestos foi desproporcional. Ademais, algumas das reivindicações dos manifestantes, como a ampliação da participação política, foram de fato incluídas na agenda do governo sírio.

Enquanto as grandes potências já falam na renúncia de Bashar al-Assad, porque o grupo Ibas insiste em uma negociação moderada? Há interesse econômico?

Não há interesse econômico. Representantes do Ibas foram à Damasco em busca de “capital político”. Índia, Brasil e África do Sul reivindicam um lugar entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Para sustentar essa reivindicação, eles têm de mostrar serviço, isso é, eles têm de mostrar que são relevantes para a segurança internacional.
Joana Neitsch


O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, questionou ontem a avaliação dos Estados Unidos de que a Síria estaria melhor com a saída do ditador Bashar Assad do comando do país.
Ontem, representantes dos países do Ibas (Brasil, Índia e Áfri­­ca do Sul) tiveram um encontro em Damasco com Assad e seu chanceler, Walid Muallem, e re­­forçaram a mensagem da de­­cla­­ração do Conselho de Seguran­­ça da ONU condenando a violência praticada por “todos os lados”.
“Tem que ter um pouco de prudência também na aplicação do remédio, pra que o remédio não mate o paciente. Tem que ser um remédio na dose certa”, afirmou Patriota sobre a saída de Assad. Na avaliação do chanceler, “alternativas ao governo atual podem ser até mais problemáticas”.
“O que você faz? Tira o Bashar Assad e quem assume? O Exér­­cito? Outras forças que podem ser mais radicais, forças mais progressistas? Como é que [elas] conseguem implementar um plano de reforma?”, questionou o mi­­nistro.
Apesar da expectativa de que a violência cesse no país, o chanceler brasileiro reconheceu a necessidade de a Síria manifestar “por fatos, não só com palavras” os compromissos assumidos.
“O padrão de comportamento [do regime sírio] nas últimas se­­manas recomenda um grau de ceticismo”, afirmou.
A missão do Ibas segue agora para a Turquia, onde a situação na Síria será mais uma vez discutida.
O chanceler turco, Ahmet Da­­vutoglu, esteve recentemente com o ditador sírio e reforçou pedidos como maior acesso de jornalistas ao país e eleições presidenciais no próximo ano.
O Brasil está sendo representado pelo embaixador Paulo Cor­­deiro, subsecretário-geral para Oriente Médio do Itamaraty.




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