Mundão
Hora da decisão para Assad
Por Andrew Patrick Traumann*
Após o assassinato de três membros do alto escalão do regime de Bashar Al Assad,ontem, a crise na Síria, que se arrasta há meses chegou a um turning point. Há relatos de deserções no Exercito,o principal pilar do regime e o governo de Assad pode estar entrando em seus estertores. Dentro do Conselho de Segurança os debates têm sido intensos.
EUA e União Europeia querem uma resolução com a inclusão do artigo 41 do capítulo 7 da carta da ONU, ameaçando com sanções o regime sírio caso não coopere com o plano de Kofi Annan.
A Rússia e a China são contra. Primeiro porque consideram que a oposição também é culpada e responsável por graves violações de Direitos Humanos. Mas, mais importante, consideram o artigo 41 apenas como uma etapa para o artigo 42, que seria a ameaça de intervenção militar.
Para a Rússia, Assad ainda desfruta de expressivo apoio da população e não há como forçar a saída de um governante popular sem agravar a guerra civil. Também possui preocupação com o radicalismo sunita dos opositores e busca defender as minorias cristã,especialmente os ortodoxos,maior confissão religiosa russa. Os EUA e os europeus acham que nada mais justifica a permanência de Assad e que numa transição para a democracia as minorias religiosas estariam legalmente protegidas.
A tendência agora é que o regime passe a usar suas forças de elite, majoritariamente alauítas e cristãs, contra os opositores que são em sua maioria sunitas. No interior e mesmo na capital, as Shabiha, como são chamadas as milícias leais ao regime deverão intensificar a violência para se vingar do atentado de ontem. Ações nos moldes do massacre de Sabra e Shatila no Líbano em 1982, ou mesmo de Houla na Síria semanas atrás, devem acontecer nos próximos dias,e não há por parte dos Shabiha, a menor preocupação com o que pense ou deixe de pensar a comunidade internacional.
A oposição, por sua vez, conseguiu uma vitória expressiva. Sabe que conta com amplo apoio da população e que este tende a aumentar com o sectarismo. Afinal, os árabes sunitas são 60% da população, os cristãos 10%,assim como os alauítas, os drusos e os sunitas curdos. Com as crescentes deserções no Exército há a possibilidade que cheguem ao palácio de Assad. E o que aconteceria?
Mais uma vez conjecturando, Assad pode concordar em ir para o exílio em troca de garantias de não ser processado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional).Por seu temperamento, Assad tende a agir como Ben Ali,ditador tunisiano que se exilou na Arábia Saudita, e Vladimir Putin deve tentar convencê-lo,inclusive oferecendo a Assad asilo em Moscou ou Kiev. Se ficar na Síria, pode acabar preso como Mubarak ou morto como Kadaffi. A Síria já está mergulhada no caos com ou sem Assad,mas a sua saída é o primeiro passo para a tentativa de uma solução negociada.
* Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR.
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