Por Robson Valdez
Pressionada pelos ventos da primavera árabe, que já derrubou governos na Líbia, na Tunísia e no Egito, o governo da Síria vem tentando conter sua revolta popular desde março de 2011. As constantes denúncias de violação dos direitos humanos por parte do governo central de Bashar al–Assad contra a população civil têm mantido este país no centro das discussões políticas mundiais.
Ex-colônia francesa, a Síria conquistou sua independência em 1946. A partir daí, até 1961, o país passou por governos militares e uma tentativa de união com o Egito de Nasser. Em 1963, o revolucionário partido Baath, fundado nos ideais do nacionalismo árabe e do socialismo, toma o poder. Três anos mais tarde, a ala radical do partido assume o controle do país e leva os fundadores do partido a se exilarem no Iraque onde acabaram por estabelecer uma rivalidade entre os dois países que se mantém até os dias de hoje.
Em 1970, o então ministro da defesa, Hafez al-Assad, líder da ala moderada do Baath, expulsa os radicais e, após instituir eleições parlamentares e presidencial em 1972, é eleito presidente e mantém-se no poder até sua morte em 2000. Com a morte de Hafez al-Assad, seu filho, Bashar al-Assad é eleito presidente do país no mesmo ano e reeleito em 2007 para mais um mandato de sete anos em eleições marcadas pela a ausência de oposição.
Segundo Diego Pautasso, mestre/doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor de Relações Internacionais da ESPM/Porto Alegre, “a posição geopolítica do país e a previsibilidade do Governo de Bashar al-Assad mantém a estabilidade de um país marcado por divisões, sobre tudo religiosas”. No entanto, apesar das denúncias de violação dos direitos humanos desde o início dos confrontos no país, a comunidade internacional não encontra consenso sobre como intervir no país.
Incertezas e legitimidade
Segundo Pautasso, a coesão doméstica em torno do governo Assad, a relação Síria-Irã- Hezbollah, e as incertezas quanto aos atores que poderiam assumir o poder fazem da intervenção uma opção custosa. Pautasso lembra ainda, que a posição de não-intervenção da China e da Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) no sentido de “salvaguardarem o conceito de soberania” além de ampliar o protagonismo desses países, “exploram as contradições deixadas pelos EUA e OTAM com sua política de força”.
Para George Wilson dos Santos Sturaro, mestre em Relações Internacionais e professor de Relações Internacionais do UNICURITIBA, a maior dificuldade está na “ausência de um consenso internacional e, consequentemente, da legitimidade para agir em nome de todos”. Enquanto as potências ocidentais buscam pressionar o governo sírio por meio de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, a Liga Árabe, assim como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vêm defendendo uma solução negociada para o conflito.
George Sturaro lembra que, China e Rússia – países que repreendem violentamente os movimentos separatistas em seus territórios - têm optado por uma solução pacífica para crise síria como forma de“impedir a consolidação da doutrina da Responsabilidade de Proteger”. Para o professor, esta doutrina tem sido o guarda-chuva moral das intervenções dos EUA, França e Inglaterra e OTAN na Líbia. No entendimento do especialista, “esse tipo de intromissão nos ‘assuntos internos’ causa apreensão em Pequim e Moscou”.
Assim como Pautasso, Sturaro destaca também o papel geopolítico do país na região ao ressaltar a influência Síria no Líbano; a demanda síria sobre as Colinas de Golã – tomadas por Israel em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias; além das relações do país com movimentos islâmicos da região, como é o caso do Hezbollah.
Dessa forma, levando-se em conta as incertezas e os interesses geopolíticos envolvidos, tudo indica que o quadro geral dos confrontos na Síria permanecerá como está: coesão na condenação aos abusos e divergências quanto à intervenção no país.
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