Mundão
Vale a pena conferir: “TERRA DE NINGUÉM”
Por Gabriela Sueitt Abud
Uma verdadeira força europeia, formada por Bósnia, Eslovênia, Bélgica, França, Itália e Inglaterra, une seus esforços para produzir um filme que critica abertamente a ação das Nações Unidas na Guerra da Bósnia e, diga-se de passagem, em muitas de suas missões de paz.
A história se foca em uma batalha a qual deixa dois homens vivos, um bósnio chamado Chiki (Branko Djuric) e um sérvio de nome Nino (Rene Bitorajac). Além dos dois protagonistas o filme também conta a história de Cera (Filip Sovagovic), o qual tem uma mina de fragmentação (produzida, fato relevante, na União Europeia, embora proibida por lei de ser usada) plantada embaixo dele enquanto está desacordado, para que no momento que alguém o mova todos sejam deflagrados.
A primeira tentativa de pedido por resgate se mostra inútil, uma vez que os quartéis -generais, não sabendo a nacionalidade deles, decidem não se arriscar e tomam a decisão de bombardear a trincheira. Esse é o primeiro ponto sensível no qual o filme toca, a despreocupação e a desconsideração com a vida humana, a qual torna-se apenas instrumento de destruição em um circo de absurdos que é a guerra.
No meio tempo de uma tentativa para a outra, desenrola-se uma interessante discussão onde ambos culpam seus inimigos de terem começado a guerra. A conclusão que se tira, porém, é resumida quando Chiki expõe que não há importância no fato de descobrir a origem do conflito, uma vez que estão todos em uma situação deplorável.
Quando Nino e Chiki unem-se pela primeira vez para pedir ajuda, as tropas sérvias e bósnias decidem por chamar a missão da ONU no conflito, a UNPROFOR. O capitão francês Dubois recebe a mensagem e informa o que ocorreu ao sargento Marchand, porém não autoriza nenhuma atitude até obter permissão dos superiores (ordem que o soldado não cumpre).
Na conversa entre eles, fica clara a falta de interesse e a burocracia envolvida nas missões de manutenção da paz. Soft pergunta se Marchand quer arriscar a vida dos soldados por Nino e Chiki e argumenta ainda que não há nada que ele poderia fazer, uma vez que as ações só podem ser tomadas após aprovação da assembleia. Nesse momento nota-se que a crítica do filme vai, sobretudo, para a ONU. Lá, tal como na guerra em geral, a organização não sabe se interfere ou não. É uma posição de neutralidade em meio ao extermínio: a situação do comboio da ONU vale, nesse sentido, para toda a Europa.
De volta, Marchand se defronta com a repórter inglesa Jane Livingston. O soldado, sabendo muito bem como é que se articula o jogo, recruta a mídia e expõe as forças da ONU de modo que elas deveriam agir ou enfrentar o constrangimento. Quando questionado sobre o motivo de sua desobediência, Marchand atenta que ninguém pode ser neutro em uma situação de morte.
Enquanto o circo midiático se desenrola e as Nações Unidas planejam sua inatividade, Nino e Chiki, em meio a tentativas de se matarem, começam a se deparar com pontos em comum. Em um momento de paz, eles descobrem que ambos conheciam a mesma garota. Quando Nino comenta que ela viajou para o exterior e Chiki afirma que é melhor assim, o público tem a impressão de que esses dois até poderiam estar tomando café juntos caso a situação não fosse tão caótica.
Quando a ONU finalmente aparece, os soldados são recebidos com o comentário "Os Smurfs estão aqui” (tanto devido aos seus uniformes azuis quanto pela sua inutilidade de base). Aqui se observa que na verdade, ao invés de fornecer uma análise da guerra, Tanovic dirigiu seu ataque contra uma comunidade internacional que apoiou e assistiu ao invés de ajudar. Durante uma reportagem, Jane atesta que embora a ONU realizasse ajuda humanitária e alimentasse 1200 pessoas por dia, ela não impediu que chacinas acometessem os civis.
Já no final do filme se articulam uma teia de mentiras para que a ONU não tivesse sua imagem danificada (ou seja, a integridade da Organização se torna mais importante do que a vida humana). O filme começa então a se desenrolar com uma velocidade grande, na qual a ONU falha e a imprensa, que de um modo ajuda a pressionar a ONU a interferir, termina com um papel de superexploradora do drama da guerra, perdendo seu papel crítico e assumindo uma postura de meramente sugar o impasse até a última gota.
Terra de Ninguém evidencia o absurdo e a futilidade da guerra e nos deixa com a tristonha imagem de um homem preso vivo em uma mina, largado a própria sorte e com a esperança de uma salvação que nunca virá.
Gabriela Sueitt Abud é aluna do 3º período do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).
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