Paraguai potência?
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Paraguai potência?




por Alexandre Pereira Santos



A Guerra do Paraguai provoca certo fascínio na história brasileira, pois ela foi o grande conflito que o nosso país enfrentou. Após esse momento símbolos nacionais nasceram (Exército) e outros começaram a decair (Império). Porém, a participação do Brasil nesse conflito ainda é subestimada. Dessa forma, o livro de Francisco Doratioto, “Maldita Guerra”, vem para explicar essa posição que foi tão discutida. A influência da Inglaterra, o nascimento do mito Solano Lopez e as maleses que esse conflito causou na região, mantendo sempre a neutralidade, sem a utilização de nacionalismos que pudessem atrapalhar a análise dos fatos ocorridos. 


O Paraguai nunca teve muita significância no império espanhol quando esse era colônia. Era um país sem minérios e os esforços espanhóis eram maiores para defender as regiões produtoras de prata. Por isso o país conseguiu certa “independência” da colônia exploradora. Com isso a liberdade por completo veio no inicio do século XIX, um dos primeiros países americanos a conquistá-la, porém a legitimação dessa liberdade veio apenas em 1841, pelo Brasil. Durante esse período de mais de 30 anos, o Paraguai viveu sob uma completa insignificância no cenário mundial sendo a família Lopez a única a lucrar com essa situação.

Essa família que comandou o Paraguai desde a sua independência até a derrocada do conflito com a tríplice aliança, dominava todos os setores econômicos do país. O mate, único produto que chegava a ser exportado, era dominado pelos Lopez. Aliás, esse produto foi decisivo para o leve desenvolvimento que o país alcançou no meio do século XIX. Com o dinheiro advindo do mate foi possível alimentar os sonhos imperialistas que Solano Lopez possuía. Nesse período indústrias bélicas foram construídas, sendo todas elas com capital, tecnologia e material humano importado da Inglaterra.

Essa é a diferença da versão que nos é passada na escola e a qual Francisco Doratioto passa em seu livro. Aqui ele coloca a Inglaterra como um importante país que tentou parar esse grande conflito, enviando um representante legal, Thomas Thornton para fazer a mediação. Até mesmo porque havia capital britânico envolvido na região, e não porque era uma nação que estava com medo do desenvolvimento paraguaio.

O começo do conflito em si tem a contribuição de outro estado: o Uruguai. Lideres deste país temiam a influência que o Brasil possuía desde os tempos que a região se chamava cisplatina. O comércio era liderado por brasileiros e conseqüentemente estes tinham voz significativa na região. O país passava por uma situação de total desordem e também de invasão de brasileiros para esse país em busca de oportunidades de emprego; os oposicionistas dessa influência culpavam nossos nacionais de provocarem essa situação de descontrole. Havia ali também novas eleições que decidiriam qual rumo tomaria o Uruguai nesse conflito que viria acontecer. Blancos do lado simpatizante a Solano Lopez e os colorados pelo lado brasileiro. Os blancos haviam até mesmo assinado acordos com o Paraguai garantindo o respaldo uruguaio caso o Paraguai viesse a atacar o Brasil. Porém o vencedor das eleições foram os colorados que tinham uma posição política parecida com a do Brasil.

Inicialmente as forças se reuniriam da seguinte forma: Brasil e Argentina de um lado e Paraguai e Uruguai do outro. Porém com a vitória do lado brasileiro nas eleições uruguaias fez com que os guaranis entrassem nesse conflito sozinho. O que é de se lembrar que o Paraguai foi o único país dos quatro que realmente se preparou para o conflito organizando tropas e construindo material bélico. Nesse período o Brasil nem mesmo possuía um exército organizado. Essa vantagem estrutural fez com que o Paraguai ganhasse uma vantagem estratégica no início da batalha. Mesmo assim essa vantagem foi diluída ao longo do tempo devido ao seu exército diminuto e também com a organização dos outros países no front de batalha. É nesse período que a Inglaterra entra como financiadora da guerra. Ela, como foi dito, estava por trás do financiamento para a construção de uma indústria no Paraguai, porém nesse momento também entra como financiadora da Tríplice Aliança, com um empréstimo significativo para o Brasil, além de vender navios que haviam sido vendidos ao Paraguai, mas devido a falta de pagamento foram parar nas mãos brasileiras. Essa foi a posição Inglesa na guerra, de passividade. Sem defender nenhum lado envolvido no conflito, trabalhando nos dois fronts com o único objetivo de defender o capital britânico na região, seja da forma diplomática para assegurar a não destruição de fábricas ou na venda de armamentos bélicos.

A guerra foi muito dura para ambas as partes. A Tríplice Aliança sofria para conseguir informações sobre a geografia paraguaia. Não existiam mapas que pudessem descrever a região, o que dificultava as estratégias de invasão. O Paraguai sofria de diversos males. Em algumas batalhas seus soldados iam para os conflitos até mesmo nus, devido à falta de dinheiro - até mesmo para comprar uniformes ­- que se alastrava na economia paraguaia em conseqüência desse conflito. Todos os soldados dessa guerra foram heróis. Por mais que a Tríplice Aliança fosse um pouco mais organizada, os problemas de febre amarela e a falta de comida para abastecer os pelotões eram comuns.

Esse é o ponto a se destacar nesse conflito. O heroísmo dos soldados, pois mesmo tendo um presidente megalomaníaco, os paraguaios nunca desistiram do front de batalha e lutaram até não poder mais, contra países que eram considerados seus inimigos, mas que no fundo nunca desejaram ter começado essa guerra.

Alexandre Pereira Santos é aluno do terceiro período do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.





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