Terroristas, os vilões do século
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Terroristas, os vilões do século




Por Marina Lombardi

Imagine um terrorista.

A não ser que você não tenha vivido o 11 de setembro, provavelmente o que te veio a cabeça foi a imagem de um homem, se não o próprio, muito semelhante a Osama Bin Laden.

Agora, e se essa pergunta fosse feita 10 anos atrás?


O termo terrorismo e terrorista nunca foi tão usado como tem sido após essa data que marca o nosso século. E, até então, o terrorista não tinha essas feições que imaginamos hoje. Os soviéticos, vilões do passado derrotados na Guerra Fria, deram lugar a um novo inimigo.

O ataque às torres gêmeas e a figura de Bin Laden como o novo vilão, tornou viável as ações imperialistas americanas justificadas como “a Guerra contra o Terror”, também já definida por George W. Bush como “a Cruzada contra o Eixo do Mal”.

Chocamos-nos até hoje, 10 anos depois, com as atrocidades do 11 de setembro e com a morte de 3 mil pessoas (estatística aparentemente oscilante), em sua maioria, civis inocentes. Mas a incessante busca pelos culpados torna a nossa visão um tanto quanto ofuscada, um momento propício para o surgimento de um novo vilão, o terrorista, aquele figurado pela Al-Qaeda e, posteriormente, pelo mundo islâmico. Estes novos inimigos que surgiram foram a base para a guerra contra o terrorismo, na qual os EUA passaram a investir. A política externa americana volta, então a se tornar cada vez mais isolacionista e unilateral. Ironicamente, ela procura se estabelecer no sistema internacional com aceitação e suporte de outras potências do mundo ocidental, afinal, explica, suas intervenções são pautadas nas necessidades globais.

O que torna a personalização do terrorista pelos EUA tão curioso é o fato da própria ONU não possuir, ao menos, definição sobre o termo terrorismo. Stewart Patrick, da CFR, afirma que o terrorista de um pode ser o combatente da liberdade de outro. Desde a instituição das Nações Unidas fala-se em combate ao terrorismo, mesmo que este seja livre de interpretação para cada Estado. Seria essa a lacuna ideal para uma justificativa conveniente aos americanos na caça pelos terroristas no Afeganistão, Iraque e Paquistão?
Em 1986 a Corte Mundial condenou os EUA pelo “uso ilegal da força” (também conhecido como terrorismo internacional), a única condenação da história. Os americanos, na seqüência do ocorrido, vetaram uma resolução da ONU sobre adesão a normas internacionais.

O uso do poder-violência, conceituado por Walter Benjamin, é legitimável a partir da idéia de guerra justa. Assim, observa-se no discurso pós 11 de setembro uma guerra permeada pela moral e busca-se convencer o mundo de que a vítima precisa vingar seu agressor como forma de fazer justiça. Seguindo essa perspectiva, Washington continua a apoiar ditaduras em nações consideradas amigas, enquanto acredita ser capaz de impor a democracia a inimigos subjugados (BARBER). O terrorismo, modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror, parece ser unilateral para os EUA, ou seja, enquanto são vítimas de ações terroristas, as mesmas ações violentas vindas de sua parte visam simplesmente a justiça e a manutenção da democracia.

Operação causa justa na Nicarágua, Bombas inteligentes no Iraque, intervenção humanitária em Kosovo. Deixamos as justificativas convenientes aos americanos influenciarem a imagem que temos sobre conflitos tais como o 11 de setembro. O ‘triunfalismo’ dos EUA tem sido utilizado como um instrumento que ameaça dissipar a nossa percepção das relações internacionais. Não deveríamos, então, discutir sobre o que é o terrorismo que nos comprometem enquanto cidadãos cosmopolitas em vez de buscar vilões a quem culpar?

Referências:
BARBER, B. R. Império do Medo: guerra, terrorismo e democracia. São Pauo: Record, 2005.
CHOMSKY, N. trad. AGUIAR, L. 11 de setembro. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertband Brasil, 2002.
D’ALBUQUERQUE, R. B. 11 de setembro de 2001: como se engana a humanidade (o poder da mídia). Ed. Céu e Terra: São José do Rio Preto, 2001.
DINIZ, E. Compreendendo o Fenômeno do Terrorismo. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/7259139/Diniz-do-o-Fenomeno-Do-Terrorismo.> Acesso reaizado em 13 de setembro de 2011.
ONU ainda tenta definir terrorismo. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2011/09/12/onu-ainda-tenta-definir-terrorismo>. Acesso realizado em 13 de setembro de 2011.
NYE JR., J. O Paradoxo do poder americano. Ed. UNESP: São Paulo, 2002.

Marina Lombardi é estudante do quarto período do curso de Relações Internacionais no Unicuritiba.



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