O cientificismo na esfera racial
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O cientificismo na esfera racial


Por Norma Mitiko Yamagami
Graduanda do curso de Direito pelo Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA

Este artigo é baseado no trabalho desenvolvido na disciplina de Seminários de Cultura Jurídica I, orientado pelo Professor Luíz Otávio Ribas. Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), 2011.


O Apartheid dividiu não brancos, não europeus, dos outros, em 1948.
Nenhum ser é completamente igual ao outro. É a diversidade que faz com que cada ser se adapte melhor ou pior aos diversos desafios que o ambiente lhe proporciona. Assim, os mais adaptados têm mais chances de sobreviver e se propagar, por meio de um mecanismo que Darwin chamou de seleção natural. 


A teoria de Darwin revolucionou a forma como os seres humanos pensavam sobre a sua origem. Trouxe grandes avanços científicos e ampliou enormemente a compreensão da evolução das espécies. Mas, nas mãos de pessoas erradas, tornou-se uma temerosa ferramenta para justificar incomensuráveis injustiças e maldades.
Alguns intelectuais que acreditavam na superioridade da raça branca utilizaram a teoria de Darwin para criar o que ficou conhecido como darwinismo social. Segundo eles, assim como insetos não adaptados ao ambiente tendem a extinguir, as raças não brancas, por serem, no seu ponto de vista, inferiores, também tenderiam a extinguir. Mas não deixaram essa extinção a cargo da seleção natural, eles mobilizaram a polícia, o exército, as escolas, a religião, entre outros, para ativamente exterminar ou inferiorizar os não brancos.
Essa “cientificidade” que tais intelectuais imprimiam à questão racial humana justificou muitas crueldades que mancham a história humana.
Massacres e genocídios raciais eram comuns na era colonial.  Milhões de pessoas foram mortas, vítimas de discriminação étnica, baseada na cor e nos aspectos físicos.
No cabo sul africano, os povos Khoisan foram retirados do seu território e quase foram exterminados pelos colonizadores britânicos. No norte do Canadá, os índios inuvialuit nativos foram dizimados pelos europeus. Na América do Sul, guerras de extermínio permitidas pelo governo argentino estavam irrompendo contra os índios Pampas. Na América do Norte, os índios Sioux, Navajos, Lakota, Cherokee, estavam sendo dizimados e tirados de suas terras.
Por toda parte colonizadores brancos estavam destruindo povos indígenas e nesses mesmos anos, o velho racismo que tinha nascido na era da escravidão começou a ressurgir. A diferença era que agora tinha uma roupagem científica.
Enquanto nas ciências naturais (física, química,...) a política e a ideologia exercem influência decisiva principalmente no momento da aplicação do conhecimento (do uso social do saber), nas ciências humanas (sociologia, economia,...) a política e a ideologia estão presentes no próprio processo de produção de conhecimento já que elas são a matéria prima de trabalho do cientista.
Assim, quando está presente um interesse político, a ciência corre o risco de ser manipulada. A teoria de Darwin foi modificada para justificar o pensamento eugenista que predominava na época.
A Índia, colônia inglesa na época vitoriana, foi surpreendida pelo fenômeno climático “El niño” e milhares de pessoas estavam morrendo de fome, pois a produção agrícola era insuficiente. Mas ao invés de oferecer ajuda, o rei justificou que o grande número de mortes seria conseqüência da seleção natural de espécies. Se a espécie dos indianos fosse mais forte, não morreriam tantas pessoas. Entre 1870 a 1890 morreram 30 milhões de indianos sem que o governo inglês oferecesse qualquer ajuda. 
Essa cientificidade racial foi usada não somente para justificar mortes causadas por fenômenos naturais, mas também grandes massacres empreendidos pelos governos. As bombas nucleares que atingiram Hiroshima e Nagazaki, foram jogadas quando o Japão já tinha se rendido. O país já não representava uma ameaça. Muitos teóricos afirmam que o fato de a raça ser amarela tornou mais fácil a decisão de jogar tais bombas só para mostrar sua força para outros países. 
E o Apartheid? Em 1948 é oficializada a política de segregação racial do apartheid pela minoria branca, que impede o acesso dos negros à propriedade  da terra e à participação política e os obriga a viver em zonas residenciais segregadas. Somente em 1994 termina o apartheid, deixando uma herança de grandes desigualdades sociais.
Esse pensamento estreito, em que cada sociedade só consegue perceber a sua egoísta existência, segregando e impondo costumes e religiões como sendo a mais civilizada e desprezando todos os outros que julga tão diferente, não deveriam ser dignos daquele que julga ser o povo mais evoluído.
Mas a lente humana ainda não é capaz de perceber que a natureza é tanto mais bela quando existem variadas espécies diferentes de árvores, flores e arbustos todos compondo um único espaço. O ser humano desconhece a beleza da variação humana e não consegue ainda dividir o seu espaço.

Referências:
ALMANAQUE ABRIL. Países África do Sul - Apartheid. 35ª ed. Editor Abril.
ANDERSON, Duncan: PONTING, Clive. Há justificativa para o uso da bomba atômica? BBC História. V. 12. 1996.
FREUD: além da alma. Direção: John Huston. Estados Unidos. Versátil Home Vídeo. 1962. 1 DVD (67 min). preto e branco.
MAGNOLI, Demétrio. O mundo Contemporâneo – Os grandes acontecimentos mundiais – Da Guerra fria aos nossos dias. 2ª Ed. Ed. Atual. 2004.
RACISM: A History, fatal impacts. Direção:  Paul Tickell. Inglaterra: BBC four, 2007. 1DVD (60min) color.



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