A respeito do editorial que postei abaixo da Zero Hora, pouco precisa ser acrescentado.
Em um só - curto - texto, o grupo RBS faz uma defesa da importância de um jornalista ter diploma e, também, da defesa da não obrigatoriedade dele para o exercício profissional.
Aqui na Holanda existem faculdades de Comunicação e de Jornalismo (inclusive em nível técnico, aliás). Mas não é obrigatório ter um diploma específico para ser jornalista. Tenho uma colega na Universidade que, após se formar em Ciência Política (bacharelado e mestrado), quer trabalhar na imprensa, ser jornalista. Quero comentar com ela amanhã na aula sobre a proposta do Senado de reintroduzir na legislação brasileira a obrigatoriedade do diploma para exercício profissional do jornalismo e ver o que ela diz.
Comentei hoje com outros colegas que têm aspirações totalmente diferentes para seus futuros e a opinião sobre o assunto foi a mesma, unânime: limitar o direito de expressar-se em um meio de comunicação apenas a quem tem diploma é um contrassenso [sim, agora é com dois esses, eu chequei!]. É uma contradição gritante entre a teoria e a prática.
Já li e ouvi muitos argumentos a favor da regulamentação. Adoro em especial aquele que compara a regulamentação profissional de jornalistas à de médicos ou de engenheiros, por exemplo. Dou toda a razão para a existência de conselhos, federações profissionais e congêneres de jornalistas (para outro momento deixo a discussão da contribuição sindical obrigatória, esta sim a que sou totalmente contrário). Posso não concordar com as ideias de muitas delas, mas nem com a militância política da maioria me incomodo, desde que não seja financiada ilegalmente ou com dinheiro público.
Expressando-me no popular, contudo, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa": eu tenho discernimento o suficiente para saber o que é uma opinião razoável e o que não passa de pantomima quando leio meu jornal ou assisto ao meu programa de TV. Já sobre enzimas pancreáticas ou vigas metálicas, se sei alguma coisa resume-se ao que tive de responder no vestibular de biologia ou matemática. Falta-me aptidão técnica para tal e não confiaria jamais em quem não a tivesse. Aliás, até posso dar atenção a palpiteiros no assunto por pura educação mas, via de regra, palpite formulado, ele entra num ouvido e sai pelo outro. E sigo a um profissional qualificado se minha dúvida realmente necessita ser esclarecida.
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Importante tê-lo! Mas isso não pode ser entrave a quem não tem e que também pode dispor de muita qualidade! |
Já em jornais e sites na internet, leio até - e muito - opiniões das quais discordo. E muitas excelentes opiniões e matérias jornalísticas que leio são escritas por quem não tem diploma. Eu próprio fui repórter em jornal sem ter diploma nem ser estudante de jornalismo! E muitos repórteres daquele e de muitos outros jornais continuam trabalhando sem ter diploma ou mesmo sem estudar jornalismo - como toda faculdade no Brasil, se não for pública, caríssima. E, ressalte-se, muitos são excelentes profissionais.
Outro argumento recorrente, o de que o nível educacional brasileiro é baixo e, por isso, deve-se regulamentar a mídia pelo alto "interesse social" da sua atividade, é só pretexto para censurar (a regulação da mídia em sentido amplo não é o interesse direto do projeto de lei em questão, ressalte-se; mas há quem defenda tal ideia como segundo passo e, de qualquer forma, esse ponto sempre acaba entrando no debate). Tal solução equivale a dar ao responsável pela baixa educação da população, o governo, o prêmio máximo pela sua inoperância: tutelar a opinião publicada através do poder de decisão sobre o que nós podemos ou não ler, assistir ou ouvir. Para todos os efeitos, confio muito mais nos resultados positivos que a liberdade de expressão traz com o passar do tempo do que uma tutela governamental de qualquer gênero e em qualquer período.
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Ensino de qualidade é muito importante. Já fazer companhia à Tunísia, não é bem algo que se possa dizer "melhor para a sociedade". |
Por fim, além da Holanda, a lista de países que não exigem diploma de jornalismo para o exercício profissional inclui a Alemanha, a vizinha [do Brasil] Argentina, o Chile, a nova potência chinesa, a Dinamarca, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Suécia e a Suíça. Desde 2009, o país passou a integrar esta lista com a mencionada decisão do Supremo.
Mas o Senado Federal quer que o Brasil volte a fazer parte de outra lista de países e novamente tornar obrigatória a posse de um diploma de jornalismo como passaporte para o mercado de trabalho. Nessa lista figuram, por exemplo, países como a África do Sul, a Arábia Saudita, a Colômbia, o Congo, Equador, Honduras, Indonésia, a Tunísia, a Turquia e a Ucrânia.
Eu gostaria que o Brasil continuasse marcando presença na primeira lista.
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