Revolta nos países árabes: caminho para a democracia ou para novas ditaduras?
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Revolta nos países árabes: caminho para a democracia ou para novas ditaduras?


As revoltas nos países árabes estão no noticiário diário desde que a Tunísia viu seu presidente abandonar o poder após 23 anos de ditadura. O estopim da crise, a morte do jovem Mohammed Bouazizi, de 26 anos, é simbólico também para explicar a disseminação dos protestos e revoltas por todo norte do continente africano e parte expressiva do Oriente Médio. 

Bouazizi estava desempregado e trabalhava na informalidade. Decidiu em uma atitude desesperada, atear fogo ao próprio corpo em dezembro do ano passado. Até 5 de janeiro permaneceu hospitalizado até vir a falecer - e desencadear uma onda jamais vista no mundo árabe. Bouazizi era o exemplo prático da incapacidade de os governos existentes nestes países lidarem com nações de jovens, muitos com diploma universitário nas mãos, sem emprego e sem perspectiva de futuro. A internet, sem dúvida, imprimiu velocidade aos eventos e foi vista, desde logo, como inimiga dos ditadores no poder - como no caso egípcio, em que o twitter foi bloqueado em todo o país ainda no início da revolta popular.

Agora que os conflitos estão deflagrados, iniciam as especulações sobre o futuro dessas nações. Assumirão governos verdadeiramente democráticos? Ou, em lugar disso, mudará o poder ditatorial de mãos, passando a líderes religiosos a tarefa de oprimir a população? Não se pode afirmar com certeza, mas a probabilidade existe e é grande de que líderes muçulmanos - que, ademais, compõem a esmagadora maioria da população de todos os países árabes - assumam o comando e frustrem as mais elevadas expectativas ocidentais de que, também nestas nações, seus povos tenham o direito de usufruir das liberdades individuais e dos direitos fundamentais que só o Estado Democrático de Direito pôde, em toda a história mundial, proporcionar. 

Percebe-se, contudo, do lado otimista um ar quase ingênuo, até mesmo ignorante de muitos analistas, ao negligenciarem o triste fato de que a derrubada de uma ditadura não significa necessariamente o estabelecimento de uma democracia. Infelizmente, a mera troca de uma ditadura por outra é muito comum - mesmo quando precedida por revoltas populares. Oxalá estejam erradas as expectativas mais pessimistas e que a juventude dos países árabes, conectada às novas mídias mas alijada do mercado de trabalho como Bouazizi, seja contemplada com governos democráticos que lhe permita almejar dias melhores.



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