Mundão
A Ira de Deus: as Origens do Mossad
Logotipo do Mossad. A inscrição em hebraico cita Provérbios 11:14 : "Sem diretrizes a Nação cai; o que a salva é ter muitos conselheiros."
Por Tatiana Bettega*
O Estado de Israel é um dos maiores enigmas políticos do cenário internacional. A sua criação anômala em uma terra de terceiros afetou não apenas os palestinos – habitantes nativos da terra, deserdados de suas posses em face de outro povo – como toda a região do Oriente Médio e o mundo como um todo. Consegue-se entender esta afirmação ao assimilar a Guerra da Independência, em 1948, em que houve a primeira grande diáspora palestina, onde migraram em peso para os países árabes vizinhos; a Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual Israel anexou diversos territórios de seus vizinhos, aumentando seu poder de barganha perante eles e modificou as fronteiras locais; e a Guerra do Yom Kippur, em 1972, que desencadeou a primeira Crise do Petróleo, afetando em grande escala a economia mundial e, por consequência, a política dos Estados.
Ao levar em conta também a grande afinidade de Israel com os Estados Unidos – grande parte devido ao fortíssimo lobbyisraelense dentro do país norte-americano, que possui altíssimo poder de influência sobre a política doméstica e externa deste hegemônico país – não é preciso grande esforço para compreender a dimensão do poder de Israel e de como este pequeno país pode afetar o mundo inteiro.
Porém há muito mais sobre o Estado judaico que estas pequenas percepções estruturais podem mostrar. Israel é um Estado que nasceu com a vingança. O povo judeu, desde a Diáspora Judaica pelos babilônios e posteriormente pelos romanos, espalhou-se por todo o mundo, em especial na Europa, onde o antissemitismo gerou perseguições e extermínios de comunidades judaicas durante séculos. O apogeu desse ódio foi refletido na Solução Final judaica do Terceiro Reich, com o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa durante a 2ª Guerra Mundial. Três anos após a liberação dos guetos e dos campos de concentração e de extermínio, estava fundado o Estado de Israel – um Estado para a nação judaica.
Já durante a 2ª Grande Guerra, havia diversos grupos militares judaicos lutando contra o nazismo, junto aos Aliados. Após seu término, o grito de vingança de todo um povo resumia-se a uma frase: “Fomos assassinados. Vingai-nos. Recordai-nos” (FRATTINI, 2008, p. 14). A própria colonização judaica na Palestina se deu devido a inúmeras operações secretas da Haganahe principalmente do Palmach² para trazer imigrantes judeus para dentro do protetorado britânico. Paralelamente, várias operações de assassinato de nazistas, que foram soltos pelas nações vencedoras, foram feitas secretamente, sem deixar rastros, pelos Nokmin (Vingadores) na segunda metade da década de 1940.
Em 1951, três anos após a criação de Israel, o primeiro-ministro David Ben-Gurion ordenou a criação do Mossad.A primeira grande operação do novo órgão de inteligência e espionagem do recém-formado Estado foi a Operação Garibaldi, em que os Nokmin sequestraram Adolf Eichmann – dirigente nazista e responsável pela logística da Solução Final durante a Guerra – e levaram-no da Argentina para Israel, a fim de ser julgado e condenado à morte. Desde então, foi criada uma subunidade secreta dentro da Unidade de Operações Especiais do Mossad, que só poderia ser “ativada” e “desativada” pelo primeiro-ministro, chamada Kidon (“Baioneta”) (FRATTINI, 2008, p. 17).
“Não haverá matanças de líderes políticos; estes devem ser tratados através de meios políticos. Não se matará a família de terroristas; se seus membros se puserem no caminho, não será problema nosso. Cada execução tem de ser autorizada pelo então primeiro-ministro. E tudo deve ser feito segundo o regulamento. É necessário redigir uma ata da decisão tomada. Tudo limpo e claro. Nossas ações não devem ser vistas como crimes de Estado, mas sim como a última ação judicial que o Estado pode oferecer. Não devemos ser diferentes do carrasco ou de qualquer executor legalmente nomeado”. (FRATTINI, 2008, p. 17).
Logo, com a criação do órgão de inteligência Mossad e a criação do Kidon – subunidade de assassinos da Metsada³ – o Estado de Israel criou mecanismos legais para poder se vingar dos seus inimigos. Quase todos os chefes de governo israelenses, do partido Trabalhista ao Likud, recorreram ao Kidon e assinaram ordens de sequestro e execução. O Kidon é considerado o “braço longo da justiça” de Israel (FRATTINI, 2008, p.17 – 18).
Durante os Jogos Olímpicos de Munique de 1972, onze atletas israelenses foram mantidos como reféns pelo grupo terrorista conhecido como Setembro Negro, e foram assassinados por eles em uma fracassada tentativa de resgate por parte da polícia alemã. Tal acontecimento chocou o mundo e, em especial, Israel, que mudou os rumos da vingança para seus novos inimigos: grupos terroristas e organizações favoráveis à causa palestina e contrários à Israel.
Em reação ao trágico acontecimento de Munique, a então primeira-ministra Golda Meir autorizou a Operação Ira de Deus e diversas outras operações secundárias, em que o Kidon rastrearia e eliminaria os responsáveis pelo assassinato dos atletas israelenses. Desde então, o Mossad veio realizando diversas operações de espionagem e contraespionagem ao redor do mundo em prol dos interesses nacionais de Israel, e a subunidade do Kidon vêmeliminando os supostos inimigos da pátria. O Mossad, atualmente, é um dos órgãos de inteligência e espionagem mais bem organizados e eficazes perante a Sociedade Internacional.
*Tatiana Bettega é aluna do quinto período de Relações Internacionais do UNICURITIBA.
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