Mundão
UM CASAMENTO, UMA MORTE E UMA ROSA PÚRPURA
Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político
Meu desejo inicial era escrever sobre o enlace matrimonial do século, afinal foi a primeira vez, depois de muitos desenhos animados e filmes de contos de fadas, que tive a oportunidade de acompanhar, em minha existência hodierna, o casamento de um príncipe de verdade. Porém, as coisas no mundo real não acontecem como no universo onírico e a morte de Osama Bin Laden pôs fim ao êxtase que me envolveu, desde o momento em que vi, pela televisão, o Príncipe William chegando às portas da Abadia de Westminster. Se alguma parte de mim, não se solidarizava com os norte-americanos em seu ódio ao líder da Al Qaeda, ela foi aniquilada junto com meus devaneios principescos e por isso vocifero:
_Maldito seja Osama Bin Laden por ter arrancado a mim e a outros bilhões de pessoas, do mar de fantasias que havíamos mergulhado, pois sua morte simplesmente arrancou dos noticiários a imagem singela do jovem casal real e me fez sentir a obrigação de escrever sobre ela.
A morte de Osama Bin Laden possui, segundo minha modesta opinião, três significados relevantes. O primeiro é ter aplacado o desejo de vingança dos americanos pelo atentado de 11 de setembro ao território da liberdade, em particular, ao World Trade Center, que não somente ceifou a vida de quase três mil pessoas, como também se constituiu num gesto de traição para com o governo que em nome da liberdade e da democracia treinou Osama e seus seguidores talibãs no Afeganistão contra o invasor soviético. A lição dada aos traidores e aos maus em filmes de ação como Rambo saíram das telas e foram para o mundo concreto. Finalmente a vingança foi feita. Envolveu as pessoas que se dirigiram à frente da Casa Branca quase que da mesma forma que foi envolvida a personagem vivida por Mia Farrow na película metalinguística “A Rosa Púrpura do Cairo”, em que o ator principal do filme que ela assistia pela quinta vez seguida, interpretado por Jeff Daniels, sai da tela para lhe oferecer uma nova vida. A morte de Osama foi uma nova vida, uma vida vingada, oferecida pelo herói Barack Obama.
Com isto chegamos ao segundo significado da morte de Osama Bin Laden que é o de servir como propaganda ideológica para o atual presidente da maior potência do planeta. Pensando friamente como Maquiavel, a morte do terrorista leva o Partido Democrata à um sentimento de perda e Obama à uma expectativa: perda porque os democratas devem estar lamentando que a morte de Osama não tenha ocorrido alguns dias antes das eleições de outubro de 2010, em que o Partido Republicano conquistou a maioria das cadeiras no legislativo americano, tornando mais difícil a vida do presidente. Para Obama, a expectativa resulta da possibilidade de este acontecimento ser capitalizado de forma positiva e decisiva para seu projeto de reeleição, uma vez que economicamente as coisas não andam muito bem para a nação mais poderosa do hemisfério norte.
Por último, a morte de Osama Bin Laden não significou o enfraquecimento da Al Qaeda, muito menos o fim do terrorismo, como exaustivamente apregoam os analistas internacionais de plantão, ou ainda como disse Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU, que a morte de Osama foi “um divisor de águas”. Foi algo mais pessoal, foi uma vitória contra o homem que além de assassinar 2977 pessoas, disseminou o medo no coração de toda uma nação. Para um povo acostumado a competições, onde até ganhar no jogo de par ou ímpar é uma questão existencial, o gosto da vitória sobre o adversário sempre é bem vindo.
Agora se isso foi bom para o resto do mundo, não vou entrar no mérito da discussão, mas particularmente acho que pouco ou quase nada vai mudar; os Estados Unidos continuarão com suas políticas antipáticas e imperialistas e novos atentados ocorrerão (infelizmente). Quanto a mim prefiro voltar a falar do casamento do príncipe da Inglaterra... foi digno de minhas lágrimas de comoção... e o que dizer então do vestido da Kate Middleton... simples e ao mesmo tempo luxuoso...
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