Mundão
EU NÃO MATEI BARACK OBAMA
Marlus Forigo
Filósofo e Cientista Político
Não se surpreendam, mas em tempos de comemoração pela morte do homem que encarnou a face do terrorismo, eu não matei Barack Obama e antes que uma caçada, como a que foi empreendida contra Osama Bin Laden seja organizada contra mim, espero ter tempo para explicar minhas razões e contar como não realizei tal façanha.
Tudo começou no sofá da minha sala, em frente ao aparelho de TV ultrafino de tela de LED, que transmitia em high definition um filme que marcou para sempre minha existência: “A Lagoa Azul”. Ao mesmo tempo em que assistia ao filme, navegava pelo internet e sem intenção, me vi diante de uma página do site de uma revista* brasileira conhecidíssima por suas posições antipetistas, que trazia o seguinte título de reportagem: “
EUA já gastaram mais de US$ 1 trilhão com guerras no Afeganistão e Iraque - Só em 2009, a indústria bélica movimentou US$ 1,5 trilhão no mundo todo”.
A reportagem apresentou números impressionantes dos gastos militares realizados somente no ano de 2009. Os Estados Unidos, por exemplo, gastaram 661 bilhões de dólares, seguidos pela China com o montante de 100 bilhões, a França com astronômicos 63,9 bilhões e cifras próximas a da França vinham Inglaterra, Rússia, Japão, Alemanha, Itália, Arábia Saudita e pasmem, a Índia, país com aproximadamente 700 milhões de pobres.
Um ano antes, em abril de 2008, na capital lusitana, Jacques Diouf, então Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), afirmou que “faltava vontade politica” para acabar com a fome de quase 1 bilhão de pessoas e já que estou abusando dos números, vou acrescentar mais alguns: segundo estudos realizados por especialistas, para acabar com a fome no mundo seriam necessários investimentos na ordem de 500 bilhões de dólares para serem investidos em educação, pesquisas agrícolas, produção e distribuição de alimentos, construção de obras de infraestrutura como estradas e obras para irrigação dentre outros.
Os governos dos Estados Unidos e seus aliados se uniram não para combater o terrorismo, mas para matar Osama Bin Laden, que aos olhos da democracia burguesa (expressão marxista que tomei emprestada de um colega economista que fez doutorado na Polônia), foi o responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001. Osama está morto, feito reconhecido pela própria Al Qaeda em seu site no dia 06 de maio de 2011. Mas junto com este reconhecimento veio a ameaça de mais violência, mais mortes e consequentemente mais gastos militares.
Constantemente me pergunto se ao menos uma vez, as verbas anuais destinadas para gastos militares fossem direcionadas para o combate à pobreza, se além de acabarmos com a pobreza também não poríamos fim ao terrorismo e a muitas guerras. Talvez eu esteja enganado, talvez o que leva os homens à violência seja a sua natureza belicosa como dizia Hobbes, mas talvez não seja por acaso que grupos terroristas, guerras civis, conflitos étnicos genocidas sejam mais comuns em países de população pobre e pouco desenvolvidos econômica e socialmente.
Em agradecimento ao colega economista acima citado, pelo empréstimo da expressão “democracia burguesa”, cito as palavras do poeta Bertolt Brecht:
NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
Ficarão maiores
As propriedades dos que possuem
E a miséria dos que não possuem
As falas do guia
E o silêncio dos guiados.
Ah! Já estava me esquecendo. A esta altura devem estar se perguntando sobre a morte de Barack Obama e as razões pelas quais eu não o matei. Na verdade havia dois Obamas. Um é o Obama daqueles que torceram por sua eleição por acreditarem que ele seria diferente, daqueles que acreditaram que ele era merecedor do Nobel da Paz, que conduziria os Estados Unidos por um caminho diferente do seguido por Bush, Reagan e tantos que deram sua contribuição para tornar o mundo um lugar pior para se viver. Este Obama morreu e continua vivo àquele que ainda mantém 100 mil soldados no Afeganistão, que investe bilhões em gastos militares e que se faz de cego para os problemas do mundo em nome do enriquecimento de uns poucos privilegiados.
* http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/por-tras-das-%E2%80%98guerras-sem-fim%E2%80%99-uma-imponente-industria-belica
Marlus Forigo é Professor de Ciência Política, Filosofia e Ética do UNICURITIBA
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