Mundão
O Futuro da Europa
Cintia Rubim
A recente crise do endividamento de países europeus da zona do euro, que se agravou após a crise de 2008, tem suscitado diversas discussões e análises sobre o futuro desses países, da economia europeia e da economia mundial.
Grécia, Irlanda, Portugal e Itália parecem os mais afetados com percentuais de endividamento que passam dos 100% de seus PIBs. Calote, moratória, abandono do euro, mais medidas de austeridade fiscal, mais ajuda financeira internacional são temas recorrentes nos dias atuais e muitos debates com pontos de vista distintos tem aparecido na imprensa.
Essa análise abordará alguns desses aspectos sob um ponto de vista, propondo ao leitor um debate, uma vez que não há certo ou errado em se defender ou atacar o comportamento financeiro dessas economias que culminaram na recente crise, mas sim, pontos fortes e fragilidades, essas últimas, potencializadas com a crise de 2008.
Cabe ressaltar que essas economias já se encontravam fora do limite estabelecido pelo Pacto de Estabilidade Financeira, que regula as metas de endividamento para os países membros da Zona do Euro, antes da crise, ou seja, déficit em relação ao PIB de até 3% e razão dívida pública/PIB de até 60%. Com a crise mundial e as tentativas de estímulo às economias, essa situação piorou, pois os gastos com políticas expansionistas aumentaram e o resultado em termos de crescimento econômico não veio.
Sabemos como agentes econômicos, providos de alguma racionalidade que quando gastamos mais do que nossa receita permite nos endividamos e dependendo da proporção desse endividamento em relação à nossa renda presente e em certo grau à expectativa de renda futura, não restará alternativa a não ser tomar empréstimos. Entretanto, devemos acreditar que teremos renda para pagar esse empréstimo, caso contrário, poderemos ter sérios problemas futuros com nossos credores. Assim funciona para qualquer agente econômico, consumidor, empresa ou Governo.
Sem desempenho econômico capaz de provocar aumento nas receitas advindas dos impostos, dado o desaquecimento decorrente da crise, a dívida aumentou e a capacidade de pagamento ficou comprometida.
O que fazer? Pedir ajuda internacional, FMI, Banco Central Europeu, etc. Veio a ajuda para alguns desses países, mas em termos de crescimento do PIB esses países continuam patinando. Aliado às medidas de austeridade fiscal, corte de gastos, dos salários, mudanças nas regras da previdência, o crescimento econômico ficou comprometido, prejudicando a capacidade de seus Estados conseguirem reais aumentos nas suas receitas. A adoção de uma moeda única, o euro é a culpa que esses países carregam como às vezes aparece em algumas análises? Não creio. O que acontece é que a fragilidade de se adotar uma moeda única (que existe), só vem à tona em meio a uma grande crise. Sim, pois esses países perdem o instrumento de política cambial (promovendo desvalorizações em suas moedas), para aumentar a competitividade. Por outro lado, isso aumentaria ainda mais a dívida dessas economias em euro, como lembrou em entrevista concedida à Gazeta do Povo, em 17 de julho o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC)[i], Giorgio Romano “...saindo do euro haveria uma crise cambial ao reinstalar as moedas antigas, o que torna a dívida em euro ainda mais cara na nova moeda nacional”.
Então, qual a saída? Seja qual for, o fato é que haverá perdas. Cabe decidir qual lado vai perder mais ou perder menos. A população desses países já vem perdendo com as elevadas taxas de desemprego e as medidas de corte de salários, aumento de impostos, etc, mostrando que os programas de austeridade, embora necessários para reduzir os gastos, já impactaram nas economias dos países, sem com isso, ao menos por enquanto, terem contribuído para minimizar essa crise. O calote traria o prejuízo maior aos bancos e aos credores, o que parece dos ajustes possíveis, o mais justo? Porém os impactos poderiam ser perversos para a confiança, comprometendo as economias ao recebimento de investimentos no futuro. Já o abandono do euro como moeda única, poderia elevar ainda mais a dívida nas moedas nacionais pelo efeito do câmbio, agravando ainda mais a situação no curto prazo. É esperar para ver!
Cintia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA.
[i] Gazeta do Povo, Caderno Mundo, 17/07/2011, pg.24.
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