Mundão
Coordenação de políticas econômicas na crise de 2008
Cintia Rubim
A crise financeira de 2008 trouxe impactos heterogêneos para as economias. Os países mais afetados pela redução da demanda externa apresentaram algumas das características como: i) maior grau de abertura e menor grau de diversificação das exportações, ii) maior dependência do ciclo econômico dos Estados Unidos (caso do México), iii) sócios comerciais mais sensíveis à crise, iv) maiores necessidades de financiamento externo, v) mercados de capitais e sistemas financeiros mais vulneráveis, vi) menor solvência fiscal e vii) menor estoque de reservas internacionais.
Dada a magnitude da crise financeira internacional e as evidências de que essa crise, em maior ou menor grau, acabaria por afetar os países, algumas medidas para neutralizar os efeitos deletérios da falta de liquidez internacional e de fraca demanda passaram a incorporar as agendas dos formuladores de políticas econômicas.
Por trás desse fato está o reconhecimento de que a interdependência econômica mundial acaba por forçar os formuladores de política econômica a cada vez mais considerarem o ambiente externo ao decidirem sobre suas ações.
Com isso, tanto as economias desenvolvidas como as emergentes passaram a realizar um conjunto de medidas no intuito de amenizar os impactos recessivos que estavam por vir. De acordo com o Relatório do Banco Central do Brasil, de dezembro de 2008,[i] a atuação dos Bancos Centrais das economias desenvolvidas esteve baseada nas seguintes medidas: i) ampliação da oferta de moeda, ii) intensificação das políticas de afrouxamento monetário e iii) injeção de recursos para ampliação do crédito.
Já as economias emergentes da América Latina, bem como China e Índia apresentaram uma mudança na postura de suas políticas monetárias, uma vez que até meados de 2008 essas economias estavam preocupadas com a aceleração da inflação ocasionada pela alta no preço das commodities. O risco de inflação anterior à crise de 2008 fez com que as autoridades monetárias das principais economias da América Latina, evidenciando a persistência de riscos inflacionários na região, fossem um pouco mais conservadoras no início da crise.
Sendo assim, parecia que, instalada a crise, não restavam muitas opções para os países que não fosse a adoção das políticas anticíclicas. A implementação dessas políticas acabaria por caracterizar uma maior coordenação internacional dos Bancos Centrais. Os países coordenavam de forma “natural” os principais instrumentos de políticas, antes mesmo de se reunirem para discutir a crise.
Os países do BRICS, com exceção da África do Sul, mais Argentina e México passaram a adotar medidas anticíclicas já a partir de outubro de 2008. A África do Sul adota as primeiras medidas em dezembro daquele ano. Essas ações tinham como intuito aumentar a liquidez interna, amenizar a grande saída de dólares dessas economias e estimular o crédito e a demanda interna.
Os países já vinham coordenando ações monetárias, cambiais e fiscais a partir do momento que começaram a perceber os primeiros sinais da crise internacional, ou seja, em outubro de 2008. Para Frenkel, Goldstein e Masson (1988),[ii] a coordenação de políticas macroeconômicas representa a forma de internacionalizar as “externalidades” geradas por ações de políticas econômicas de países desenvolvidos.
Não foi necessário, portanto, que nesse período ocorresse um direcionamento de políticas econômicas para os países por parte de mecanismos de governança como o G-20. Em outras palavras, os países não precisavam esperar uma reunião internacional – que vai acontecer em 15 de novembro de 2008 - para saberem exatamente quais ações de políticas precisavam adotar.
Cintia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA.
[i] Relatório do Banco Central do Brasil, dezembro de 2008. Disponível em www.bcb.gov.br
2 Frenkel, Jacob A. Goldstein, Morris e Masson, Paul. International coordination of economic policies: scope, methods and effects. Working Paper 2670. NBER Working Paper Series, 1988.
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