Moeda valorizada ou desvalorizada: o que é melhor?
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Moeda valorizada ou desvalorizada: o que é melhor?



Cintia Rubim



Como toda moeda tem dois lados, a resposta é: depende. Muitos devem se perguntar se o Real “forte”, ou seja, valorizado frente ao dólar não é bom para o país. Os efeitos positivos de uma taxa de câmbio valorizada frente ao dólar, dentre outros, podem ser o de ajuda no controle da inflação (o componente importado da economia fica mais barato), recuperação do poder de compra dos salários e efeito financeiro positivo para os devedores em moeda estrangeira. Mas parece que há muito mais efeitos negativos.
Analisando essas questões para o Brasil vemos que o impacto positivo do câmbio no controle da inflação doméstica tem sido praticamente anulado pelo crescimento de nossa demanda interna e pelos fatores externos e internos que pressionam a alta nos preços dos alimentos e nas commodities. Por outro lado, uma moeda valorizada aumenta as importações e pode diminuir o saldo das exportações líquidas e pressionar os déficits em transações correntes.
Em março desse ano, nosso déficit em transações correntes de US$ 3,391 bilhões foi ocasionado pelas remessas de lucros e dividendos, pelo pagamento com juros e pelos gastos líquidos com viagens internacionais (outro efeito positivo de uma moeda “forte), salvando-se “ainda” nossa Balança Comercial que apresentou superávit de US$ 1,198 bilhões. Mas isso não significa que o setor exportador esteja contente com essa situação cambial, muito pelo contrário.
Outra questão diz respeito às ações do Banco Central. As compras de dólares com títulos públicos para evitar a valorização do Real tem como efeito o aumento da dívida pública interna em moeda doméstica, além de muitas vezes, não conseguir conter a queda do dólar. Em março a dívida pública interna federal foi de aproximadamente R$ 1,6 trilhões, quase 40% do PIB.
Vamos agora aos argumentos favoráveis à moeda desvalorizada e para essa análise recorro a alguma literatura (não há como esgotá-la em um espaço curto). Nessa linha de pensamento aparece o trabalho de Frenkel (2004) que aborda três canais pelos quais a taxa de câmbio afeta o emprego. O primeiro diz respeito ao argumento de que a melhora da competitividade das firmas domésticas resulta de uma taxa de câmbio desvalorizada. Dados os determinantes da demanda agregada, uma taxa de câmbio real depreciada leva a um aumento nas exportações líquidas, a uma maior demanda e, conseqüentemente, a um maior nível de produto e emprego. Entretanto, o autor salienta que o resultado líquido dessa desvalorização vai depender da estrutura financeira dos países e da situação econômica deles.
O segundo canal pelo qual a taxa de câmbio afeta o emprego diz respeito ao seu impacto sobre o crescimento econômico e a velocidade de geração de novos empregos. Nesse ponto, o autor coloca que a abordagem ortodoxa costuma tratar os regimes cambiais sem ter a taxa de câmbio real como uma ferramenta para o desenvolvimento econômico, sobretudo quando analisa as diferentes abordagens de escolha de regimes cambiais.
O terceiro canal é um dos menos explorados na literatura empírica e diz respeito à influência sobre a capacidade de geração de emprego de certa atividade, o que ele define como canal de “intensidade do trabalho”. Um taxa de câmbio depreciada tem efeitos sobre o emprego das atividades tradables, enquanto uma taxa apreciada pode levar algumas firmas a fecharem devido à concorrência internacional e outras a contribuir para o aumento do desemprego.
Há também o conhecido trabalho de Bela Balassa (1971). Para esse autor, uma taxa de câmbio competitiva, incentiva empresários a vender no mercado internacional e as firmas irão investir na força de trabalho local, gerando crescimento da economia. Nesse sentido aparece também o que Williamson (2003) define como development strategy approach, dando ênfase à importância de se preservar um câmbio competitivo para promover a lucratividade das atividades tradables e incentivar as firmas a expandir a produção e o emprego.


Cintia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA.


www. valoronline.com.br
BALASSA, B (1971). Trade policies in developing countries. American Economic Review. Vol 61. n.2.
FRENKEL, Roberto. (2004). Real exchange rate and employment in Argentina, Brasil, Chile and México, Cedes, Buenos Aires, paper presented to the G24.
WILLIAMSON, J. (2003). Exchange rate policy and development. Presented in Initiative for Policy Dialogue Task Force on Macroeconomics. New York: Columbia University.




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