Dentre os emergentes, é o Brasil o mais afetado pela “guerra cambial”?
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Dentre os emergentes, é o Brasil o mais afetado pela “guerra cambial”?


Por Cíntia Rubim



 




Recente pesquisa publicada na Folha de São Paulo em 25 de julho último traz um estudo feito para os setores industriais de um grupo de países emergentes, dentre eles Brasil, México, Argentina, África do Sul, Indonésia, Coréia, Índia, Turquia, China e Rússia. Ao todo essa pesquisa, baseada em entrevistas feitas com executivos dos países, contemplou treze economias emergentes.
Segundo a pesquisa, o Brasil foi o único, dentre os países pesquisados, a apresentar encolhimento do setor industrial no último mês de junho. O estudo busca prever o comportamento da indústria a partir do nível de estoques, ritmo de novas encomendas e contratações. Parece que o efeito da taxa de câmbio tem forte poder de explicação nessa pesquisa, embora não possa ser apontado como o único responsável.
É sabido que a forte valorização do real ao encarecer os produtos brasileiros no exterior compromete a competitividade das exportações do setor industrial. Essa forte valorização – que o governo brasileiro tenta a todo modo inibir através de medidas, das quais se destaca a última com a imposição de cobrança de IOF sobre transações no mercado de derivativos – enfraquece a indústria, sobretudo naqueles setores mais afetados pelo câmbio sobrevalorizado.
Os dados de comércio exterior ilustram essa situação atual: a indústria vem importando mais e exportando menos e embora tenhamos superávit na nossa balança comercial geral (saldo positivo das exportações menos as importações, promovido pelo aumento nos preços internacionais das commodities) ao analisarmos as informações por setores da atividade econômica percebemos um déficit comercial para o setor industrial de cerca de US$ 30 bilhões em 2010.
Não pretendo discutir aqui as causas da chamada “guerra cambial” que tem sido amplamente apresentada pelo nosso ministro da Fazenda como potencial causadora de males presentes e futuros para a economia brasileira – tema que já foi muito bem tratado neste espaço pelo acadêmico de Relações Internacionais, Guilherme Melo no artigo “Guerra Cambial: concorrência, liberalismo e política”, publicado em 15 de maio de 2011; mas ressaltar que a perda da competitividade da indústria brasileira e a piora em seu desempenho frente a outras economias emergentes, pode estar associada (e certamente está) a outros efeitos combinados com o câmbio desfavorável, dentre os quais destacam-se a elevada carga tributária, problemas de infraestrutura e a burocracia.
Se compararmos, por exemplo, a carga tributária brasileira, de cerca de 35% do PIB, com a de alguns dos países emergentes, os dados são realmente surpreendentes. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o Brasil lidera o ranking em carga tributária como proporção do PIB dentre os emergentes: Coréia (25,6%), Turquia (24,6%), Rússia (23%), Chile (18%), México (17,5%) e Índia (12,1%).
Ora, será que adiantará o empenho do governo brasileiro em conter a valorização do real para melhorar a nossa competitividade internacional sem atentar para os importantes entraves estruturais da nossa economia? Ou continuaremos a “enxugar gelo”, nos preocupando com o curto prazo, como são os objetivos e a lógica das políticas macroeconômicas, necessárias, mas infelizmente muitas vezes descoladas da atenção às questões estruturais de longo prazo. Com certeza, o câmbio não é o único culpado!


Cíntia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA.



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