Mundão
Mais um aumento nos juros: impactos para a economia interna e para as relações econômicas internacionais
Cíntia Rubim*
Acompanhamos na quarta-feira, dia 20 de abril, novo aumento da taxa básica de juros da economia brasileira, a SELIC, de 11,75% para 12% ao ano. Com essa taxa de juros, o Brasil continua campeão mundial em juros reais (taxa de juros descontada da inflação) e vice-campeão em juros nominais, perdendo para a Venezuela, cuja taxa nominal é pouco mais de 18% ao ano. Muitos são os impactos de uma taxa de juros alta em uma economia.
Não me proponho aqui discutir a origem desse fenômeno no Brasil, mas analisar basicamente duas questões. A primeira diz respeito aos efeitos sobre a economia doméstica e a outra questão se refere às relações comerciais entre economias.
No que se refere à economia doméstica, sabemos que o Banco Central do Brasil, responsável pela política monetária efetua aumentos na taxa de juros básica cada vez que o índice oficial de inflação, o IPC-A estiver em elevação, o que tem acontecido atualmente na economia brasileira por algumas razões. Crescimento econômico com as políticas anticíclicas adotadas no pós crise, inflação mundial de alimentos, dados os efeitos de demanda mundial e de entressafra para alguns produtos e também a inflação dos combustíveis, tem contribuído para esse cenário de preocupação para diversos setores, para os consumidores e para o governo.
Desde o ano passado o Banco Central passou também a adotar outras medidas (endossadas pelo FMI) chamadas “macroprudenciais” como auxiliares e necessárias ao controle desse processo de alta nos preços, dentre as quais, o aumento do compulsório, redução do prazo e exigência de maiores valores para financiamentos. Mesmo assim, ainda temos um cenário de inflação acima da meta para 2011 e os juros aumentando. Juros maiores são perversos para o lado real da economia. O investimento torna-se mais caro e as dificuldades são maiores, sobretudo para as pequenas e micro empresas e para o consumidor que precisa de crédito.
Muito se discute se dados os fatores que tem levado a inflação atual (como a questão da alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis que não pode ser totalmente explicada pela demanda) aumentos nos juros serão totalmente eficazes para controlar a inflação. Existe no Brasil outra pressão muito importante sobre a inflação e que deve ser corrigida, a das contas públicas. Ao aumentar o gasto, o governo coloca mais dinheiro em circulação e acaba por anular o efeito do aumento da SELIC, pois é agente econômico que afeta a demanda agregada.
Quanto aos efeitos não domésticos, podemos ressaltar o impacto na sobrevalorização da taxa de câmbio e sobre as relações de troca entre os países. Essa é uma preocupação atual para a economia brasileira e também para outras economias, cujas moedas tem se valorizado frente ao dólar. É certo que dentre os motivos para as valorizações de moedas frente ao dólar tem-se a política monetária expansionista dos EUA pós-crise de 2008, que aumentou a liquidez internacional com reflexos inclusive nos preços de algumas commodities internacionais (pressionando a inflação mundial). Nossos juros altos também contribuem para isso, pois o diferencial de juros (em um ambiente econômico internacional de juros baixos) atraem capital financeiro internacional, principalmente o especulativo que vem em busca de maior rentabilidade, contribuindo para pressionar o câmbio. Quanto maior for a valorização do real, pior para nossas contas externas, o que podemos verificar com uma rápida análise de dados da Balança Comercial brasileira de 2010 (sem nos atermos em outra boa discussão a respeito da composição de nossas pautas de exportação e importação). No ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, enquanto as exportações aumentaram cerca de 32% com relação ao ano de 2009, as importações cresceram em torno de 42%. Parte desse aumento das importações é devido ao próprio crescimento da economia brasileira, mas também há o efeito do câmbio.
Outras tantas discussões são possíveis nesse tema, limitadas pelo espaço dessa coluna, portanto deixo para os próximos interessados no assunto algumas questões que podem ser desenvolvidas. Que tipo de distorção o sistema atual de taxas de câmbio, baseado no dólar gera para os países? Dados os efeitos das políticas domésticas sobre variáveis que afetam as relações econômicas entre os países (como vimos para o caso da taxa de câmbio) como os Estados podem harmonizar os objetivos macroeconômicos domésticos com as relações comerciais entre os países?
Cintia Rubim é professora de Economia do UNICURITIBA
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