A declaração do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante a sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) desta quarta-feira (19), de que “noventa por cento das pessoas expostas à maconha se tornam viciadas”, foi rebatida por especialistas em droga. A declaração do procurador foi dada durante o julgamento que questiona a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, e pode descriminalizar o porte de drogas para uso pessoal. A posição de Janot foi contrária à descriminalização. O presidente do Conselho Internacional de Álcool e Dependências (ICAA em inglês), Artur Guerra, ao jornal Folha de São Paulo, afirmou que a declaração de Janot pareceu “piada” do ponto de vista médico. Guerra afirma que a boa parte dos estudos internacionais indicam que, um em cada dez pessoas que experimentam maconha se tornam dependentes, não o que o foi dito por Janot. "Não acredito que [Janot] tenha sido alimentado com dados inconsistentes. Como faltam estudos brasileiros, cada uma aceita o que quer de acordo com suas convicções. Precisamos de mais dados e de menos paixões", diz. O professor da Universidade Federal de São Paulo e especialista em dependência química, Dartiu Xavier da Silveira, vê má-fé na declaração do procurador, por citar um dado sem antes verificar a veracidade. Segundo estudo da Universidade John Hopkins, nos EUA, citado por Silveira, 9% de quem usa maconha se torna dependente. No caso do álcool, o percentual sobe para 15%. No do tabaco, 33%. O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) aponta que 20% dos usuários de psicoativos do mundo consomem 80% das drogas no mercado, enquanto 80% dos usuários consomem 20% das drogas. "Isso quer dizer que 80% dos consumidores de drogas não são problemáticos e seu consumo não acarreta problemas graves", explica Rafael Franzini, represente do UNODOC no Brasil.