Mundão
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES OU O FIM DA HISTÓRIA?
Huíla Borges Klanovichs
Após o 11 de setembro, podemos observar várias mudanças no sistema internacional, com destaque para o surgimento do conflito entre os Estados Unidos e o mundo islâmico, mas será que estamos mesmo vivendo o que Samuel Huntington chamou “o choque de civilizações”?
Huntington publicou sua teoria em 1993 em um artigo da Foreing Affairs, no qual afirmou que, após a Guerra Fria, os principais atores políticos seriam as civilizações e não os Estados nacionais e que os conflitos internacionais se dariam entre elas por motivos religiosos e não mais ideológicos. Imediatamente após o ataque ao World Trade Center e o início da chamada “guerra ao terror”, essa teoria ganhou muita força, inclusive entre os analistas de Relações Internacionais, já que o que teve início foi uma guerra contra o islamismo, e não contra o terrorismo propriamente dito, visto que os Estados Unidos buscaram dar um fim ao terrorismo islâmico, literalmente atacando os países islâmicos considerados responsáveis, mas deixando de lado outras organizações que também cometem atos terroristas, que, no entanto não se identificam com o islamismo, como o ETA, por exemplo. Esses ataques aos países islâmicos acabaram confirmando a idéia de Huntington sobre o choque de civilizações.
Mas será que hoje ainda podemos aplicar essa teoria? Na realidade, o que estamos vendo agora no sistema internacional, principalmente no que se refere aos Estados Unidos e aos países árabes, é uma espécie de introspecção. Os países estão passando a se preocupar cada vez mais com problemas internos, no caso, a dívida norte-americana e a queda de regimes autoritários no Oriente Médio e no norte da África (um conjunto de revoluções que ficou conhecido pelo nome de Primavera Árabe), deixando de lado o conflito surgido após o 11 de setembro e fazendo, assim, com que a teoria de Huntington perdesse a força adquirida após os atentados.
Com relação às revoluções no Oriente Médio, líderes dos países ocidentais, com destaque para o presidente francês, Nicolas Sarkosy, afirmaram que a Primavera Árabe é a melhor resposta aos ataques do 11 de setembro, pois os ditos responsáveis pelo atentado agora estão buscando os valores da democracia e da liberdade.
Mas será que então ao invés do descrito por Huntington em seu choque de civilizações estamos vendo o cenário descrito por Francis Fukuyama? Fukuyama apresentou sua teoria em 1989, em um artigo denominado “O fim da História”, afirmando que a democracia liberal representa o coroamento da história da humanidade, ou seja, que após a destruição do fascismo e do socialismo, não haveria nenhum outro regime que se oporia à democracia liberal ocidental, mostrando que esse é o regime político mais adequado e que deveria ser adotado por todos os países.
Tomando como base essa teoria, podemos dizer que a queda dos regimes autoritários em países como Egito e Líbia serve como uma prova de que Fukuyama estava certo. Mas na realidade, será que podemos afirmar que esses países agora adotarão a democracia liberal? Ou será que surgirão regimes teocráticos, baseados na religião? Infelizmente, ainda não podemos afirmar nenhuma dessas duas hipóteses, devido à proximidade dos eventos. Porém não devemos descartar a idéia de Fukuyama, pois existe uma possibilidade, ainda que muito pequena, de que esses países adotem regimes democráticos.
No entanto, tampouco podemos descartar a hipótese de Huntington, pois pode ser que, caso regimes teocráticos cheguem ao poder, haja um retorno ao confronto entre as denominadas civilização ocidental e civilização islâmica.
Enfim, qual será o cenário que teremos daqui para frente? Infelizmente, ainda não podemos responder a essa pergunta. No entanto, podemos (e devemos) esperar que a “guerra ao terror” finalmente chegue ao fim, ainda mais se levarmos em consideração os gastos materiais e principalmente humanos já empreendidos nessa guerra.
Huíla Borges Klanovichs é acadêmica do oitavo período do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba.
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