A Ascensão da Islamofobia na Europa
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A Ascensão da Islamofobia na Europa





 Por Andrew Patrick Traumann* (publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo de 09/08/2011)

O massacre de 77 noruegueses por Anders Breivik no último dia 22 de julho  mostra uma faceta da Europa que muitos preferiam não ver: a da extrema-direita radical em busca do resgate de uma  Europa branca e cristã idealizada.Contudo,se fizermos uma análise de longa duração da História europeia observaremos um longo período de paganismo,no qual escandinavos como os antepassados de Breivik adoravam Odin,depois há a  ascensão do Cristianismo a partir do século IV,mas  que só consegue realmente se estabelecer e esmagar os resquícios das antigas religiões com a força da Inquisição a partir do século XII,e o momento atual o qual muitos filósofos chegam a denominar de descristianização da Europa, tal a diminuição do papel da religião na vida das pessoas,o que pode ser observada no esvaziamento das igrejas e no aumento do número de europeus que se dizem agnósticos ou ateus.

Breivik na verdade não possuía razões concretas para se queixar dos imigrantes islâmicos. A taxa de desemprego na Noruega é de 4% e a população islâmica mal chega a 3%. Do mesmo modo vemos que os muçulmanos são uma pequena minoria em todos os países europeus, mas se tornaram um símbolo de todos os problemas do continente para os extremistas. O país com a maior população islâmica da Europa é a França com 8% de muçulmanos. Em todos os demais países as porcentagens são menores. A islamofobia, porém tem se arraigado na sociedade europeia servindo aos mais diversos propósitos.
Com o conflito na ex-Iugoslávia difundiram-se, a partir da extrema-direita radical  argumentos sérvios atacando a “islamização da Europa” e associando o islamismo ao nazismo. O resultado de tal ódio foi a “limpeza étnica” liderada por Slobodan Milosevic. Após os atentados 11 de setembro de 2001, os neoconservadores norte-americanos e a extrema-direita israelense desencadearam uma luta contra o que chamavam de “islamo-fascismo”. Nada mais eficiente para assustar o cidadão comum europeu do que comparar uma religião “estrangeira” com ideologias totalitárias como o nazi-fascismo.
Em outubro do ano passado a primeira-ministra alemã Angela Merkel afirmou que o multiculturalismo europeu fracassou, e um Best-seller no país escrito pelo ex-membro do Banco Central alemão Thilo Sarrazin tentou provar com pretensos dados científicos a inferioridade genética dos muçulmanos e o “perigo” da substituição da “raça pura” alemã pelos “inferiores”. Na França, Marine Le Pen filha do líder de extrema-direita Jean Marie Le Pen, propôs o fim do princípio do jus solis para obtenção da cidadania francesa e também comparou a imigração islâmica à ocupação nazista do país. Em 2009 a Suíça realizou  um referendo pela proibição da construção de minaretes (as cúpulas das mesquitas), por supostamente descaracterizarem a arquitetura local,que saiu vitorioso com 54% dos votos. Detalhe: a Suíça, com 4% de população islâmica possuía apenas quatro mesquitas com minaretes em todo o país. Uma piada, se não fosse verdade.
O racismo seja o que justifica a escravidão negra, a perseguição aos judeus ou a deportação de muçulmanos se baseia na oposição entre um grupo heterogêneo apresentado como homogêneo (os nacionais) e outra sociedade também heterogênea, mas apresentada como homogênea (os “Outros”), que são na visão dos racistas, todos iguais.
Criou-se o mito da “Eurábia”, uma espécie de similar islamofóbico ao mito antisemita do "Protocolo dos Sábios de Sião", a ideia de que os muçulmanos possuem uma “bomba demográfica” com a qual conquistarão a Europa e descaracterizarão a cultura europeia. Este conspiracionismo e este horror ao Outro se difundem mais facilmente quando são apresentados como a “resistência” contra uma “ocupação”, ou a defesa de uma cultura.  Assim, a  islamofobia torna-se  uma ideologia popular, um mito mobilizador que pode impulsionar a ação de pessoas como Breivik.

*Andrew Patrick Traumann,doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR é professor de História das Relações Internacionais do UNICURITIBA.




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