Mundão
Utopia de Thomas More - Classicos de RI
Sobre o autor
Thomas More nasceu em 1478 na Inglaterra e aí morreu em 1535 em virtude de uma querela com o Rei Henrique VIII, sobre a indissolubidade matrimonial defendida pela Igreja Católica e também por More que era profundamente ligado a essa religião. Ao não reconhecer a vontade real Thomas More foi julgado a morte por enforcamento devido a sua abnegação à Igreja Católica o canonizou em 1935 e em 2000 foi declarado patrono dos Estadistas e Políticos pelo Papa João Paulo II .
Para além da morte violenta que teve, Thomas More não entrou para história por ser um servidor do rei, diplomata, escritor e humanista renascentista, contemporâneo de Erasmo de Roterdã, de quem foi amigo e político inglês tendo sido eleito speaker da câmara dos comuns com 26 anos de idade.
Mas é na literatura de ficção e filosofia política que se destaca por ter escrito um livro chamado Utopia que se tornou um clássico das relações internacionais e da ciência política.
Sobre a obra
Utopia foi publicado em 1516, quando o escritor estava com 38 anos, e trata se de um livro que, apesar da amplitude interpretativa que permite, enseja uma crítica à Europa de então. Baseado nas leituras que fizera de Américo Vespúcio e suas narrativas sobre o novo mundo criou uma historia fictícia sobre uma Ilha que se chamava Utopia, cuja base real era Fernando de Noronha, e seus habitantes que praticavam um sistema de repartição igualitária dos bens sociais, onde inexistia a propriedade privada assemelhando-se ao socialismo utópico. Em suma, Utopia era o locus político em que os costumes, valores e a organização política tinha já alcançado a perfeição. O adjetivo utópico, passou a significar a partir do livro uma quimera, algo inalcançável, sem nenhuma base concreta na realidade.
O livro faz a crítica as relações exteriores da Europa marcadas pelo belicismo, militarismo, realismo político,ausência moral na condução dos assuntos de estado, o bem estar garantido por meio dos exércitos de plantão. Rousseau prefaciando Abbe de Saint Pierre, no Projeto de Paz perpetua para a Europa, diria anos mais tarde que embora sensato, seria menosprezado pelos governantes europeus.
Utopia e Relações Internacionais
A historia de Thomas More tem importância para o estudo das relações internacionais na medida em que permite contrapor a realidade a um possível devir, isto é, seu valor é teleológico.
Rafael Hitlodeu, um português,criado por More para contar como a ilha funciona, dá conta de que o seu inicio se deve a um invasor externo denominado Utopos que, no entanto, o desenvolvimento cultural que atingiu não se deu devido a abertura de Utopia ao mundo, pelo contrário, foi o seu fechamento. Não há interdependência em Utopia.
A relação que se estabelece entre Utopia e o mundo se dá através mais da amizade, do sentimento, do apreço e da consideração do que por meio de tratados uma vez que esses são facilmente rompidos pelos soberanos.
Isso não quer dizer que Utopia não faça a guerra embora a trate como um recurso extremo ela pode ser preventiva, de auxílio, por humanidade e etc. A ilha retratada por Hitlodeu parece ser capaz de equilibrar justiça e poder bélico com astúcia e rapace. Primeiro porque se mostra extremamente justa com os inimigos na sua moderação durante os combates e, segundo, porque se vale de vários meios escusos para derrotar o inimigo (corrompem o outro lado, causam a sedição) como se isso não estivesse em contradição com sua alta cultura.
Nas finanças internacionais Utopia possui credito com diversos países além de suas riquezas internas.Vende seus produtos no mercado internacional a preços módicos porque tem visão solidária quanto ao problema da escassez de produtos.
Utopia nos coloca diversas reflexões acerca do papel de uma potencia. Utopia ao nos enganemos é sob vários aspectos e intenta promover um imperialismo do bem que, de todo modo, é a sua própria interpretação do mundo. Utopia parece querer nos fazer acreditar que por possuir instituições tão sólidas, riquezas, respeito ao outro,embora esse outro deveria ser uma mera extensão sua e moderação internacional, que seria por si só um modelo para outras nações. No pensamento teórico das RIs se antecede à Rousseau, Abbé de Saint Pierre, Kant e Norman Angell, vários séculos embora idealismo Kantiano se diferencie por realmente respeitar o outro.
Ainda assim, utopia pretende ser uma forca benigna, uma potencia baseada em pressupostos humanistas, o que é o objetivo de todos, convém ressaltar, o problema é que no meio do caminho existem interesses nacionais que nem sempre se coadunam com aqueles pressupostos.
Contemporâneo de Maquiavel, More merece ser lido, não só por ter criado um termo muito caro à política de forma geral mas também por trazer em si a necessidade de sempre buscar a Utopia, por que o seu papel fundamental é nos fazer caminhar em sua direção.
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