Mundão
Terremoto no Japão - Parte II: Análise preliminar sobre os impactos econômicos
Bruna Freitas VicenteAs catástrofes do dia 11 de março no nordeste do Japão além de terem resultado em vários problemas para o setor primário da região, como o desabastecimento de alimentos, falta de combustível, aumento dos preços, problemas na usina nuclear de Fukushima 1, apresentam desdobramentos preocupantes e ainda não totalmente conhecidos para a economia global, tanto nas grandes potências como em países emergentes. Em virtude da destruição da cidade portuária de Minamisanriku, o setor de importação e exportação fica comprometido em um primeiro momento, refletindo no mercado de matéria-prima e, conseqüentemente, na produção industrial. Entretanto, este quadro tende a mudar e a favorecer, ainda que em virtude de uma situação trágica, algumas economias, principalmente as emergentes, devido à grande demanda japonesa por produtos primários para a reconstrução do país [especula-se que esta custará entre UU$ 235 bilhões[1]].
Desta forma, o mercado das commodities tende a ser afetado, tanto no curto como no médio e longo prazo. O Japão, segundo maior exportador de aço mundial [vindo depois da China] com seus 43 milhões de toneladas[2] exportadas só no ano passado, poderá ter sua produção comprometida em torno de 23%[3] devido à destruição e à escassez de energia. Dessa forma, prevê-se um aumento nos preços do setor, privilegiando as siderúrgicas brasileiras e chinesas, que passarão a ter maior demanda pelo mercado mundial em um momento imediato, como também ao longo prazo, quando o governo japonês iniciar a reconstrução. Outro setor que sentirá forte influência deste acontecimento será o mercado de alimentos, que terá sua demanda aumentada por produtos processados para o consumo imediato da população japonesa (principalmente a carne bovina e de frango).
Além dos problemas das commodities e da balança comercial, há o gravame da situação nuclear. Com a crescente instabilidade nos reatores de Fukushima 1, o governo japonês não vê outra alternativa senão torná-la inativa e reavaliar a segurança das outras usinas nucleares, medida esta que causa desconforto na economia do país, uma vez que 35%[4] da produção energética provêm da energia nuclear [20% desta está comprometida[5]]. Este problema afeta não apenas o Japão, mas tantos outros Estados que dependem desse tipo de geração energética, como é o caso dos EUA e Alemanha. Estes Estados se encontram na situação de rever seus planejamentos nucleares e a segurança destas usinas, procurando por novas fontes energéticas, medida esta custosa aos cofres públicos em uma situação pós-crise [em que muitos desses países ainda passam por uma fase de recuperação].
O último [e tão grave quanto os demais] fator a ser analisado é a dívida publica e o déficit orçamentário japonês. Apesar de o governo japonês já ter sido advertido por Naoyuki Shiohara, subdiretor do FMI, a dívida continua crescente, ultrapassando os 200% do PIB nipônico[6]. O PIB, que já vinha sofrendo uma retração, com queda de 1,3%[7] no quarto trimestre de 2010 e a dívida que continua aumentando, deve sofrer um impacto maior com as tragédias ocorridas no início deste mês.
O Japão deve sua elevada dívida publica à grande infra-estrutura que proporciona à sua população, com uma constante política fiscal expansionista. Para manter tal política, ainda após a crise de 2008 (que resultou em um forte período de recessão), o país emitiu um alto indice de títulos de dívida publica que são comprados não apenas pelos seus trabalhadores, mas também por outros Estados (devendo ser resgatados após um determinado período pré-estipulado).
Após os recentes acontecimentos, o Japão encontra-se em uma situação econômica desfavorável. Segundo a ministra francesa de economia, Christine Lagarde, uma solução plausível seria a compra por parte dos Estados de mais títulos japoneses, para que este pudesse reestruturar-se. Esta situação seria positiva ao momento imediato, pois geraria capital instantâneo para a reconstrução. Entretanto, poderia provocar um caos financeiro no país ao longo prazo, na qual elevaria-se a dívida a um ponto intangível. Talvez, apesar de não ser possível o corte de gastos no atual momento, a adoção de uma política fiscal contracionista (com aumento de impostos) seja o mais viável no momento.
Bruna Freitas Vicente é acadêmica do 3º período de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba e aluna de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa “Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico” da mesma Instituição.
[1] Segundo relatório divulgado pelo Banco Mundial no dia 21/03/2011.
[3] InfoMoney – www.infomoney.com.br
[7] economia.estadão.com.br
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