Senadores comentaram nesta quinta-feira (7) a renúncia do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ocorreu no início da tarde. A maioria das análises foram receosas e expressaram cautela para aguardar os desdobramentos do fato.
Para o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), a renúncia representa um agravamento da crise política do país – que teve Cunha como um dos maiores protagonistas, segundo o senador. Ele avalia que, mesmo fora do comando, Cunha continuará sendo uma figura proeminente, e sua vulnerabilidade afeta o presidente interino Michel Temer, que é seu aliado.
- Ele é a pessoa mais influente da Câmara dos Deputados. Está apenas renunciando à Presidência, mas acho que o deputado Eduardo Cunha seguirá sendo uma ameaça e um gravíssimo problema para o governo Temer - disse.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse acreditar que a renúncia é parte de um “acordão” para evitar a cassação do mandato de Cunha. Para o senador, sem o foro privilegiado o ex-presidente da Câmara fica sujeito a prisão, uma vez que já é réu em investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e esse cenário seria preocupante para o governo.
- Tem muita gente preocupada com a delação do Eduardo Cunha. Ele não renunciaria se não tivesse um “acordão” montado para salvar seu mandato. Não foi nenhum gesto nobre. Tem uma articulação aí envolvendo vários partidos. Uma delação dele é explosiva, o governo não aguentaria um dia - afirmou.
O senador Alvaro Dias (PV-PR) também disse que não descarta a existência de uma negociação nesse sentido, mas disse que não crê no sucesso da estratégia. Para ele, a pressão popular pela cassação de Cunha impediria essa conclusão.
- É possível que tenha ocorrido um acordo, mas não creio que seja bem-sucedido. A não-cassação implica contaminar o próprio Legislativo. Há uma exigência nacional de punição àqueles que cometeram delitos. Não há, a meu ver, hipótese de salvação do seu mandato.
Impeachment
Jorge Viana chamou Eduardo Cunha de “grande artífice e engenheiro” do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff, e avaliou que a derrocada do deputado evidencia que o processo estava contaminado desde o início.
- A renúncia dele expressa que aqueles que lutaram para derrubar o governo da presidente Dilma o fizeram baseado na ação de alguém que não consegue se sustentar na vida pública. Mostra claramente que há um arranjo por trás dessa história do impeachment - disse.
Alvaro Dias disse acreditar que a renúncia de Cunha não vai afetar o andamento do processo no Senado, uma vez que ele já está em estágio avançado e vem cumprindo as regras constitucionais e o rito estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Lindbergh Farias afirmou que apenas a cassação e a prisão de Cunha, acompanhadas de uma delação que envolva o núcleo no governo Temer, poderia afetar os rumos do impeachment, e garantiu que continuará lutando para que isso aconteça.
Crise
A senadora Ana Amélia (PP-RS) afirmou que o acontecimento é mais um capítulo na crise política, mas disse que enxerga um ponto positivo. Para ela, a Câmara dos Deputados vivia um período “confuso” e de “grande desgaste” com o afastamento de Cunha e a presidência interina do vice Waldir Maranhão (PP-MA), e, com a renúncia, poderá realizar uma nova eleição e ganhar estabilidade.
- A Câmara poderá respirar novos ares e não contaminar mais a crise que estamos vivendo. Isso certamente trará as condições necessárias para se continuar votando matérias importantes.
Para Jorge Viana, a renúncia de Cunha mostra que a crise política é mais profunda do que se imagina, pois atinge “uma das figuras mais importantes” do PMDB. Segundo ele, isso é importante para demonstrar que o PT não é o único culpado pela situação do país.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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