Mundão
PROIBIR O CONCURSO “BUMBUM DOURADO” É CONTRA A LIBERDADE DE REUNIÃO.
Por. Belarmino Van-Dúnem
Angola está a caminhar para o desenvolvimento, mas este processo acarreta consigo várias dimensões que não passam apenas pelo acesso aos bens de consumo material. Quando as necessidades básicas estão satisfeitas, os seres vivos têm a tendência para procurar satisfazer outras dimensões que complementam o bem-estar. A fruição, segundo Emanuel Levinas, é uma delas.
A fruir passa por várias facetas e depende da mundividência de cada um, dos seus objectivos e convicções. Nas sociedades de predominância cristã, o corpo humano tomou uma dimensão bastante sexual, ou seja, a proibição e diabolização do corpo humano, sobretudo o feminino, fez com que as fantasias sexuais sejam cada vez maiores. Enquanto tradicionalmente as partes do corpo feminino tomadas, nas sociedades aculturadas, como íntimas e excitantes (coxas, nádegas e seios, vulgo mamas) são vistas de forma natural, na cidade desenvolveu-se um mito à volta disso, quem publicamente expõe ou admira é visto como desviado dos padrões sociais aceites.
Incrivelmente, os concursos de Miss, vulgarizados em todo o mundo são vistos como normais, tendo mesmo honras de assistência de governantes e patrocínios de entidades ancoradas na moral ocidental cristã. Embora eu não concorde com a atribuição de mérito à uma pessoa por ser detentora de dotes físicos particulares sem qualquer substância social, reconheço o papel que aquelas senhoras desempenham no desbloqueamento de acções sociais.
O caso mais recente da proibição, por parte da Direcção Provincial da Cultura de Luanda, para a realização do concurso “Bumbum Dourado” constitui mais um exemplo do formalismo e da oficialidade das acções de alguns órgãos.
Qualquer actividade cultural ou lúdica que não ponha em causa a ordem pública, esteja garantida a privacidade e o decoro social não deve constituir preocupação dos órgãos do Estado. Se as pessoas que iam ver o “Bumbum Dourado” são maiores de 18 anos de idade, se as exibicionistas são maiores porque razão foi proibido o espectáculo ou concurso. Os prémios não estavam vinculados ao Estado, ninguém foi intimado à participar, o recinto é fechado (Restaurante Caribe, embora eu não conheça pressuponho ser fechado) porquê a proibição.
Pessoalmente não sou dado à este de actividades, mas não concordo que os cidadãos que alinhem sejam privados da sua liberdade porque alguém acha que está em causa valores pessoais ou de uma parte da sociedade. Se a actividade iria decorrer em recinto fechado, estando garantida a segurança, a proibição de entrada de menores e o cumprimento da lei, como a salvaguarda da vida humana e da sua liberdade, o espectáculo deveria decorrer.
A Acção da Direcção Provincial da Cultura de Luanda pode levar esses grupos a realizarem actividades clandestinas sem o controlo das autoridades, onde tudo poderá acontecer, como por exemplo, a prostituição que é proibida por lei em Angola.
Por outro lado, sabemos que as pessoas viajam e, em muitos casos, acabam por cometer excessos, na vertente lúdica/sexual, porque vivem oprimidos e recalcados nos seus países, para não citar as situações de desvios sexuais que volta e meia vemos nas nossas sociedades.
Ver ou exibir o “Bumbum Dourado” não pode ser proibido nos termos em que seria feito, porque se não teríamos que acabar com os concursos de Mister e Miss onde o que prevalece é a composição física e a parte mais esperada é aquela onde as candidatas exibem o fato-de-banho, com o “Bumbum” de fora, enquanto os homens exibem a musculatura peitoral e do resto do corpo, fazendo-o isso de cuecas.
Temos que deixar a sociedade avançar, respeitando a liberdade das pessoas se reunirem, expressarem o seu pensamento, manifestarem as suas habilidades, tudo sem por em causa a liberdade dos outros. Eu não concordaria que esse tipo de concurso fosse exibido na televisão pública ou na RNA, mas não me choca que os privados o façam.
Assim estamos a caminhar para a negação da nossa própria sociedade. Fingir que não existem determinadas acções e sabemos que existem. A prostituição é uma delas, todos os dias vemos prostitutas em algumas artérias de Luanda. A polícia faz um esforço para retira-las desses locais, mas como uma enfermidade elas aparecem. O que é melhor? Dizer que não há prostituição ou trabalhar no sentido de proteger essas pessoas contra as doenças sexualmente transmissíveis, da exploração e da agressão?
O “Bumbum Dourado” poderá realizar-se de forma secreta, dando a sensação à aquelas pessoas que estão a transgredir as leis do país, mesmo fechadas num recente privado. Deviam deixar o concurso do “Bumbum Dourado” decorrer em nome da liberdade.
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