O que há de bom na vizinhança?
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O que há de bom na vizinhança?


(Texto originalmente publicado no periódico online O Estado RJ, em agosto de 2010.)

Há brasileiros e brasileiras que não enxergam potencial econômico em alguns países sul-americanos além da Argentina. O Brasil possui um território extenso, é um grande exportador agrícola, detém tecnologia de ponta na extração de petróleo em alto-mar, mas, apesar de muitos feitos, não é totalmente autossuficiente em alguns setores, como o da produção de fertilizantes, da qual somos tão dependentes para exportarmos produtos primários. Importamos anualmente 50% do fosfato e 90% do potássio consumidos, a um custo equivalente a cinco bilhões de dólares. Por que não suprir essa demanda com insumos sul-americanos?

O Brasil, por exemplo, importa do Suriname alumina calcinata, aplicado em diversas indústrias, como a de refratários, a de esmaltes, e a de fibras e revestimentos cerâmicos; da Bolívia, o gás natural; da Venezuela, derivados de petróleo; do Paraguai, compra parte da energia elétrica gerada pela Usina de Itaipu; do Equador, medicamentos e chocolate; e do Peru, importará matéria-prima para a produção de fertilizantes. Esses são somente alguns exemplos do comércio que o Brasil mantém com nossos vizinhos. Não somos autossuficientes em tudo. Por isso, são necessárias políticas de aproximação e de complementação econômica, como o MERCOSUL e a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

Se precisamos importar, por que não ajudar os países da região? Durante a época do Império, o Brasil se posicionou “de costas” para o continente americano, voltando-se para a Europa, especialmente para a Grã-Bretanha. Em meados do século XIX, o Governo Brasileiro reformulou seu principal eixo comercial, favorecendo os Estados Unidos ao importar manufaturados e exportar café. Faz pouco tempo que notamos a potencialidade mercantil de nossos vizinhos; pode ser por isso que nós os olhamos com certo desprezo. Na verdade, um desprezo proveniente da indiferença.

Atualmente, observa-se o crescimento do comércio entre blocos em vez de acordos bilaterais. A formação de blocos, como o MERCOSUL, fortalece os Estados para negociarem em conjunto. Dessa forma, o poder de barganha dos grupos comerciais é alto e, além disso, projetos de integração física, como transporte e distribuição de energia, previstos na IIRSA, estão entre as prioridades para o adensamento de relações comerciais na América do Sul. Há tanto potencial em nossos vizinhos para exportar os insumos de que necessitamos que a integração realmente apresenta o seu valor. Por que não nos favorecermos com as oportunidades?

Para o Brasil, o projeto de integrar a América do Sul torna-se, também, assunto de segurança nacional. Investimos na complementaridade econômica entre nossos vizinhos como forma de combatemos o narcotráfico e o crime organizado na região, que é visto por países que demandam maior necessidade de desenvolvimento _ Bolívia, Colômbia, Equador e, atualmente, Peru _ como forma de gerar riqueza. Assim, temos a possibilidade de manter nossas fronteiras protegidas, além de expandir essa proteção aos territórios vizinhos, evitando a entrada de Estados extrarregionais nessas localidades, como prevê o acordo militar norte-americano com a Colômbia para o combate ao narcotráfico em jurisdição colombiana, fato que preocupou os demais países sul-americanos.

Alessandra Baldner



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