O processo de integração na América do Sul: algumas considerações sobre a UNASUL
Mundão

O processo de integração na América do Sul: algumas considerações sobre a UNASUL



Carlos Ricardo Becker

O processo de integração sul americana ganhou novo fôlego com a recente criação da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), mas até que ponto esta nova organização será capaz de nos levar? E o que será do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) e da CAN (Comunidade Andina de Nações), que observam o surgimento de uma nova Organização Internacional na região com os mesmos objetivos que os seus?

A União de Nações Sul-Americanas, anteriormente designada por Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN), é uma união supranacional que integra as duas uniões aduaneiras existentes na região: o MERCOSUL e a CAN. A Unasul é inspirada na União Europeia e é formada pelos 12 países da América do Sul.

O Tratado Constitutivo, que entrou em vigor em 2010, estabeleceu oficialmente a integração econômica da América do Sul, na forma do bloco econômico União de Nações Sul-Americanas, ou seja, os membros do MERCOSUL mais os países membros da CAN uniram-se ao Chile, ao Suriname e à Guiana numa zona de livre comércio.

O MERCOSUL e a CAN são essencialmente zonas de livre comércio, que buscam aumentar o comércio regional por meio da união aduaneira, tarifas comuns, etc. No entanto, apesar de a UNASUL também se propor a ter esse papel, ela não se limita somente a isso. A UNASUL possui um objetivo muito mais amplo de integração que não se restringe somente à arena comercial. Entre seus vários objetivos, ela pretende promover a integração econômica, energética, de infra-estrutura, dos povos e até mesmo a união monetária, com a criação de uma moeda única.

Logo, é possível imaginar que em um futuro próximo o MERCOSUL e a CAN deixem de existir ou sejam de alguma forma “absorvidas” pelo ambicioso projeto da UNASUL.
Como pode-se ver, o objetivo final da organização é chegar ao estágio alcançado pela União Europeia, mas é certo que esse é um objetivo para médio e longo prazo. Isso porque devemos levar em conta não só as enormes disparidades sociais e econômicas da região, mas também as diferentes agendas dos países e os constantes atritos que surgem na região. Por exemplo, em 2008, uma incursão aérea colombiana em território equatoriano resultou na morte do nº 2 das FARC, Raul Reyes. O episódio causou grande tensão entre Equador, Colômbia e Venezuela, além de atrasar as conversas sobre o Conselho de Defesa Sul Americano, que estava sendo debatido e criado na época.

Outra crítica feita à UNASUL é que no âmbito político ela não passa de um fórum de debate, sem autoridade para implementar suas resoluções.  Apesar disso, o cargo de Secretário-Geral da Organização (com mandato de 2 anos) fornece à Unasul uma liderança política definida no cenário internacional. O novo cargo foi concebido como um primeiro passo para a criação de um órgão burocrático permanente para uma união supranacional.

Embora alguns projetos como a união monetária sejam ambiciosos demais para o momento, o que podemos esperar para um futuro próximo são outras realizações de mesma importância, como os já mencionados projetos de integração energética e de infra-estrutura, assim como a livre circulação de pessoas, o fortalecimento de uma identidade sul americana e o próprio fortalecimento da região no cenário internacional, tanto na arena política como na econômica.

A Unasul é um projeto ambicioso, porém, com grande potencial de vir ser uma das melhores iniciativas já criadas na região. E mais importante, uma idéia pensada, desenvolvida e levada a cabo pelos próprios países sul americanos, sem nenhuma interferência de terceiros.


Carlos Ricardo Becker é acadêmico do 4º período do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Internacional de Curitiba - Facinter.


Referências:
ANTUNES, Antônio J.C. Infra-estrutura na América do Sul: situação atual, necessidades e complementaridades possíveis com o Brasil. CEPAL, 2007.
CEPAL: Unasur- un espacio de desarrollo y cooperación por construir. 2011.
GOMES, Eduardo Biacchi. Comércio Internacional e Comunidade Sul-Americana de Nações.SAFE, 2007.
SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre, 2006. 




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