Made in Brazil
Mundão

Made in Brazil


No Brasil, revela-se principalmente uma reação positiva em face do estrangeiro, caracterizando a receptividade ao estrangeiro, ou seja, o sentimento de hospitalidade que as pessoas de outras nações despertam no brasileiro, cujo embrião se encontra no povo português e na formação a partir de diferentes matrizes étnicas. Para a melhor compreensão desse tipo de reação, é importante considerar a natureza da relação que se estabelece com os outros e o modo de inclusão na sociedade.


Dando continuidade à discussão sobre aculturamento, cabe aqui o resgate sobre uma característica de nosso povo: a receptividade ao estrangeiro. Uma tendência fundamental que distingue os povos e que parece revelar muito de sua alma é sua reação perante o desconhecido, ou mais especificamente, a relação que estabelece com o estrangeiro. O conhecido, aquele que pertence ao mesmo grupo, nesse caso à mesma nação, provoca sentimentos de segurança e bem-estar, uma vez que possui o mesmo passado comum, fala a mesma língua e parece entender-nos. Já o desconhecido provoca reações ambíguas, como o medo, a desconfiança, a repugnância, a atração e a curiosidade. Isso porque embora nem sempre entendamos seus gestos e sua língua, suas vestes e fisionomias, as situações novas são vistas como atraentes e provocantes. O desconhecido passa, assim, a ser percebido, pelo menos durante algum tempo, como mais belo e mais atraente do que o velho, o conhecido.
 
No Brasil, desde o descobrimento, já se pode notar essa característica em nossos antecessores, os portugueses, em estado de conquista e reconquista e constante contato com outros povos. Aliada e essa herança portuguesa, a formação a partir de três matrizes étnicas diferentes parece ter contribuído para a alta receptividade a outros povos (com relação a esse ponto, há muita discordância sobre o famoso mito da democracia racial e a existência de segregação e preconceito em nossa realidade; entretanto, essa discussão não cabe aqui).
Trazendo essa discussão para o âmbito mais pratico, pode-se observar nas organizações, que o brasileiro tem certa fascinação pelo que vem de fora, pelo que é externo a nosso país. Embora isso, muitas vezes, possa se configurar como sentimento de inferioridade, reflete nossa formação a partir de raças múltiplas, gerando permeabilidade a essas influências. No plano econômico, o Brasil também sempre esteve subjugado a outras nações (Portugal, Inglaterra, EUA), encarando o que vem de fora como melhor e esperando soluções milagrosas e externas para se tornar como eles.
Aos fatores histórico-culturais de nossa formação, que resultaram em permeabilidade, soma-se o fato de o Brasil ter passado por décadas de isolamento e políticas protecionistas e a recente inserção do país no mercado internacional, gerando uma corrida frenética em busca do tempo perdido. Despreparado para a concorrência internacional, e acreditando na validade universal dos conceitos administrativos, o Brasil busca como deve ser feito e acaba importando técnicas em grande quantidade e sem nenhum critério. Esse processo é reforçado por agentes de difusão – Estado, instituições de ensino, meios de comunicação e categorias profissionais – que filtram, difundem e sustentam modelos importados.
Como decorrência desse processo frenético de importação de técnicas podem surgir três abordagens: mudança para inglês ver, frustração e negação, e adaptação criativa. No caso da mudança para inglês ver, mais típica do comportamento brasileiro, adota-se a técnica de forma temporária ou parcial, sem realizar mudanças mais substanciais e sem alteração do status quo. No caso em que a tecnologia não tem como funcionar e a mudança para inglês ver é impossível, as mudanças esbarram em estruturas de poder e condições operacionais não previstas, gerando frustração. Essa frustração pode levar as organizações s desistirem de ações modernizantes. Finalmente,na adaptação criativa há uma releitura dos conceitos da realidade local, um processo de filtragem das idéias e tecnologias globalizantes, para adequá-los aos objetivos da organização.
Esse convívio díspar entre formas contemporâneas de administração com seus valores e origem e os traços de nossa cultura, como extremamente prejudicial. Nesse processo, por um lado há uma força conservadora que quer preservar a organização mesmo depois ou apesar das transformações socioeconômicas. Por outro lado, a força progressista visa a transformar a organização no sentido do que se imagina ser a mudança socioeconômica. Como decorrência, há um abrasileiramento, ou um processo de aculturação dos aspectos mais desumanos das técnicas; entretanto, estabelece-se o convívio doentio entre duas formas de administrar, uma anulando a outra e tornando o progresso econômico perverso e doloroso. Nesse sentido, aceita-se a lógica da mudança, reproduz-se o discurso modernizante, mas resiste-se a sua implementação.





Patricia Tendolini é professora de economia do Unicuritiba



loading...

- O Povo Brasileiro De Darcy Ribeiro
Não sei se eu estou passando por um período algo existencial ou se apenas não consigo compreender o país em que vivo. O fato concreto é que tenho garimpado algumas leituras em busca de algumas respostas sobre o que é a Nação brasileira. O que...

- AgressÃo Indireta: Uma AmeaÇa Direta Para A SeguranÇa EnergÉtica Do Brasil
COLUNA: GUTENBERG TEIXEIRA E GUILHERME MAYER – AGRESSÃO INDIRETA: UMA AMEAÇA DIRETA PARA A SEGURANÇA ENERGÉTICA DO BRASILsex, 16 mar 2012 | Publicado em Gutenberg Teixeira e Guilherme Mayer, destaqueProf. Gutenberg TeixeiraOs...

- Formação Social Na América Latina E Identidades
Nesta semana de debate sobre a integração na América Latina, gostaria de abordar o tema da formação social e a nossa identidade. Por Luiz Otávio Ribas Os povos guarani, caygangue, mapuche, quechua, inca, maia, azteca, entre muitos outros, foram...

- O Órgão De Solução De Controvérsias Da Omc E Sua Localização Num Mercado Globalizado
Gustavo Yendo                         Criada em 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização internacional...

- Refexões Sobre Os Impactos Dos Gastos Públicos Com Educação
Patricia Tendolini Oliveira de Melo Recentemente, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) divulgou os resultados de uma pesquisa sobre os impactos dos gastos sociais sobre o PIB (http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110203_comunicadoipea75.pdf)....



Mundão








.