Mundão
Darfur – O Fim do Braço-de-Ferro
Darfur – O Fim do Braço-de-Ferro
Belarmino Van-Dúnem*
09/06/2007
Depois muitos recuos, o governo do Sudão decidiu aceitar a aplicação de uma força híbrida entre a União Africana e as Nações Unidas. O acordo foi alcançado no dia 12 de Junho de 2007, em Addis-Abeba, capital da Etiópia, entre o Sudão, a ONU e a União Africana.
As autoridades do Sudão negaram o envio desta força mista (ONU/UA) a praticamente um ano. Mas a pressão da comunidade internacional conseguiu enfraquecer a relutância das autoridades de Kartum. Os países árabes, a China, a Rússia, a Eritreia e alguns países africanos também mostraram a sua solidariedade às autoridades sudenesas, facto que contribui para a persistência do Sudão em negar uma força da comunidade internacional na região de Darfur.
No princípio do mês de Junho, o presidente americano, George W. Bush, anunciou a aplicação de sanções adicionais, caso a situação nesta região africana não melhorasse. O anúncio foi recebido com cepticismo pelo Sudão e pelos seus aliados. A Líbia, o Egipto, a China e o Chade manifestaram oficialmente a sua oposição à aplicação das referidas sanções. O Secretário-Geral da ONU também expressou o seu desacordo em relação ao projecto americano, afirmando preferir a via diplomática.
Embora as autoridades de Kartum continuem a afirmar que ignoram a ameaça da maior potência do mundo, a verdade é que, finalmente, a força conjunta ONU/UA irá brevemente para a região de Darfur sem qualquer interdição por parte do governo do Sudão, apesar do seu porta-voz ter declarado que a força terá que ser composta maioritariamente por países africanos.
A força de imposição/manutenção da paz será composta entre 17.500 a 19.600 soldados e cerca de 6.000 polícias. Actualmente a União Africana mantém uma força de cerca 7.000 soldados sem qualquer capacidade para pôr fim a violência na região, alias, têm sido vítimas do fogo cruzado em Darfur. Os países africanos já mostraram que não têm capacidade ou disponibilidade para participar em missões de manutenção da paz.
Mas o Egipto e a China já manifestaram disponibilidade para integrar a futura força híbrida ONU/UA para o Sudão cuja principal missão será a pacificação da região e a facilitação da prestação de ajuda humanitária às populações deslocadas e das regiões directamente afectadas pelo conflito.
Há quem defenda que a chave da solução está na formação de uma “Troika” composta pelos Estados Unidos, a França e a China porque são os Estados que mais interesses têm no Sudão e com capacidade de influência sobre Kartum.
A França tem grande interesse na estabilização do Sudão porque dois dos seus principais aliados da região, o Chade e a República Centro Africana têm sido afectados pelo conflito. Os Estados Unidos da América acusam o Sudão de estar a ser palco de genocídio e, possivelmente, a albergar grupos terroristas. A China, por sua vez, é o principal aliado do Sudão e tem interesse na resolução do conflito em Darfur porque as criticas da opinião pública são cada vez mais fortes. Com a realização dos jogos olímpicos em 2008 é necessário uma boa imagem. Por outro lado, o Sudão é cliente privilegiado da China na compra de armas e metade da produção petrolífera do Sudão vai para China.
A crise de Darfur já vai no seu terceiro ano consecutivo. Durante este período, o Conselho de Segurança da ONU adoptou onze resoluções, a última das quais é a resolução 1706 de 31 de Agosto de 2006 que previa a passagem da missão confiada à União Africana em 2004 para a organização das Nações Unidas, mas o braço-de-ferro prolongou-se até a data.
Segundo as estatísticas disponíveis, o conflito de Darfur já causou cerca de 200.000 vítimas mortais e mais de 2,1 milhões de deslocados. Esta situação provocou manifestações em todo mundo, principalmente nos países ocidentais, onde a sociedade já está mais madura e desempenha o seu papel de moralizadora das acções do governo, sobretudo a nível da política externa.
*Analista de política internacional
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