O etanol é um biocombustível que tem como propósito cada vez mais substituir o uso massivo de combustíveis fósseis como o petróleo o gás natural. No caso do Brasil, o etanol é feito a partir da cana de açúcar, já nos EUA é feito do milho. No Brasil, as lavouras de cana de açúcar são extensas, o que faz com que o preço do Etanol fique muito competitivo. Para ter-se idéia, segundo a Sindaçucar (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool), a produção brasileira tem capacidade de produzir este ano, durante a safra de cana de açúcar, aproximadamente 29 bilhões de litros de etanol, sendo que os EUA compram 60% desse valor.
O grande comprador do etanol brasileiro adota medidas protecionistas baseadas na sua Lei Agrícola (Farm Bill) para incentivar a sua população a demandar etanol americano. Estas medidas se constituem, por exemplo, da sobretaxação do etanol brasileiro em cerca de US$0,54 por galão, tonando-o, no mercado interno americano, mais caro que o produto nacional. Outra medida adotada pelo governo norte americano foi investir em mais produção de milho, barateando-o, por causa da maior oferta, e deixando o produto final, o etanol, consequentemente mais barato. Sendo assim, já foi divulgado, este ano, que o Brasil recorrerá novamente à OMC para esclarecimentos dos subsídios americanos, que são de mais de US$ 6 bilhões destinados ao combustível.
Ainda reagindo, outra iniciativa iniciou-se em 2009 quando o Presidente Luis Inácio Lula da Silva visitou os países da América Central, dentre eles, El Salvador, Costa Rica e Guatemala. A estratégia utilizada pelo governo brasileiro foi aproximar-se dos países da América Central, com o intuito tanto de estabelecer uma aliança frente á crise financeira de 2008, quanto ao apoio e parceria em políticas sociais (como no caso da Guatemala que já usa uma estratégia semelhante ao Bolsa Família) e tecnológicas (como na Costa Rica que, segundo Lula, poderia receber serviços brasileiros de engenharia em construções). Todavia, outro possível interesse do Brasil era estreitar laços com esses países, para talvez utilizá-los como intermediários da venda de etanol para os Estados Unidos. Afinal, os três países, bem como outros da América Central, fazem parte de um Tratado de Livre Comércio com os EUA (o CAFTA), implicando, portanto, em trocas comerciais privilegiadas, eliminando as barreiras que o Brasil encontra comercializando diretamente com os norte-americanos.
Para analisar o caso proposto, é relevante pensarmos na Teoria da Interdependência. Dessa teoria destacam-se quatro conceitos base: a interdependência, a simetria, a sensibilidade e a vulnerabilidade.
Primeiramente, a interdependência deve ser entendida como acontecimentos e fatores que afetam partes distintas de um sistema. Nesse conceito entra a ideia de simetria. Mesmo quase impossível de ocorrer na prática, ela é muito importante, pois se refere ao grau de interdependência que uma parte de um sistema tem de outra. Em outras palavras, é quando um Estado, por exemplo, não depende tão expressivamente de outro. Sendo mais independentes entre si, nenhum dos dois teria que, em alguma relação, recuar seus interesses mais que o outro. O contrário disso se verifica como uma assimetria: quem é mais dependente, acaba por ter que recuar mais.
A sensibilidade diz respeito aos impactos gerados a cada parte e a rapidez destes impactos, que são causados por algumas alterações nas relações entre essas partes do sistema. Já a vulnerabilidade, independentemente do grau de sensibilidade, é a capacidade, tendo em vista custos e agilidade, que um Estado tem para adotar medidas que superem as alterações da relação entre as partes. Consequentemente, um Estado será vulnerável se suas medidas forem ineficazes na prática, demoradas para se desenvolverem ou para produzirem resultados e muito custosas a ponto de inviabilizá-las.
Utilizando estes conceitos para analisar a situação descrita acima, podemos perceber que o Brasil é muito sensível as taxações impostas pelos EUA sobre seus produtos, neste caso específico, o etanol. Isso se deve ao fato do país norte americano necessitar muito de combustíveis, assim, é o maior consumidor destas exportações brasileiras, ao mesmo passo, os brasileiros necessitam vender o seu produto. Verifica-se, então, que ambos dependem, mutuamente um do outro. Entretanto, há uma assimetria da situação: de um lado o Brasil, com uma economia em expansão, mas ainda inferior á dos EUA, e exportando para esse único país mais da metade de sua produção; de outro, os EUA com a maior economia mundial e aumentando sua produção nacional de etanol.
Desse modo, com o menor poder de barganha, cabe ao país mais dependente, o Brasil, encontrar soluções para o problema que enfrenta, já que necessita continuar exportando para esse destino. Nesse sentido, o Brasil tentou reagir, acionando a OMC quanto ao protecionismo praticado, pelos Estados Unidos, através de subsídios. Contudo, assa medida não traz resultados em curto prazo. No caso do suco de laranja taxado, por exemplo, o Brasil levou anos para ter sua denúncia acatada pela OMC.
Anterior a tentativa de levar o caso a OMC, outro caminho foi sutilmente declarado: a aproximação do Brasil com a América Central. Como explicado acima, as visitas de 2009, do presidente Lula a El Salvador, Guatemala e Costa Rica foram declaradas, por ele próprio, como uma alternativa de levar o etanol até os EUA com menos taxas. Essa provável medida não se verificou efetivamente. Mas, a declaração de Lula tinha provavelmente como objetivo não colocar em prática a estratégia, e sim mostrar que o Brasil estava: atento as taxações, buscando reações e poderia consegui-las através de laços com diversos países. Foi um aviso, afinal.
Essas saídas, para contornar ou solucionar as taxações, por não serem tão eficazes e ágeis, caracterizam uma grande vulnerabilidade brasileira para o problema. Contudo, demonstraram que o país está atento e criando alternativas, para quem sabe, futuramente, conseguir se fortalecer (como no caso da cooperação sul-sul) e melhorar a condução de outros casos que venham a ocorrer.
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