Mundão
ANTÍTESE DO 11 DE SETEMBRO
Por
Maria Eugênia Rocha Tezza
Rayane Cardoso
Renatha Caggiano
Thaís Artigas
Alunas do Prof. Marlus Forigo
na disciplina de Ciência Política do 1º per. de Relações Internacionais
Durante a Guerra Fria foi público e notório o temor dos Estados Unidos com a expansão das ideias socialistas sobre as Américas, principalmente após a vitória de Fidel Castro em Cuba em 1959 e uma possível exportação da Revolução Cubana para o restante do continente.
Na mesma época, golpes militares foram acontecendo em vários países da América Latina. Coincidência? Não, esses golpes foram apoiados pelos EUA e a Operação Condor – uma aliança, envolvendo a potência do Norte, a CIA e a direita latino-americana. Um dos exemplos bem sucedidos desta empreitada foi o golpe militar chileno dado contra o governo constituído e liderado pelo General Pinochet.
Ao longo deste ensaio, irão aparecer vários fatos e informações baseadas no filme de Ken Loach, um dos onze diretores convidados para fazer uma série de filmes sobre o onze de setembro de 2011. Ken Loach faz uma abordagem paralela aos demais e relata sobre o 11 de setembro de 1973; a qual irá ser descrita aqui nos próximos parágrafos.
Tudo começou nas eleições de 1970 quando o então presidente chileno Salvador Allende, que pretendia transformar o Chile em um país socialista, além de bater de frente com interesses norte-americanos e as oligarquias do seu próprio país, foi eleito democraticamente pelo povo. Mas os Estados Unidos logo deram uma resposta, Henry Kissinger, secretário de Estado, declarou: ”Não vejo por que deveríamos deixar um país se tornar comunista devido à irresponsabilidade do seu próprio povo”.
Altamirano, um dos políticos chilenos mais influentes da época, foi altamente criticado por citar em um discurso incendiário que o Chile se tornaria um ‘’Segundo Vietnã histórico’’. Entraria em uma guerra armada contra os americanos, assim como ocorria paralelamente no continente asiático. Mesmo sendo criticado, qualquer índice de resistência armada pela parte do Chile estava no plano, a marinha americana invadiria o Chile para “preservar a vida dos norte-americanos’’.
O comandante geral das forças armadas chilenas, Carlos Prats, renunciou o cargo, devido à pressões de certas manifestações, indicando o general Augusto Pinochet para seu lugar, alegando que este era honesto e leal. Na manhã do dia 11 de setembro de 1973, Allende foi alertado sobre o Golpe Militar, além disso, dirigiu-se a Casa da Moeda (residência oficial). Lá, ele ouviu no rádio às 8h42, a primeira mensagem da Junta Militar, dirigida por Pinochet e outros militares, solicitando a entrega de seu cargo e evacuação da Casa da Moeda imediata. Caso ao contrário, seria atacado por tropas de ar e terra. Os EUA ofereceram 10 milhões de dólares, se não mais, para a CIA aniquilar o democrático presidente chileno. E mesmo avisado, Allende decide continuar no Palácio, dando sua última declaração ao povo: ‘’(...) Trabalhadores de minha pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.’’ Infelizmente, Allende morreu assim que as forças armadas atacaram a Casa da Moeda, surpreendendo por sua rapidez e violência. Há ainda outra teoria de que Allende teria conseguido se livrar do bombardeio e que após o mesmo, cometeu suicídio atirando em sua cabeça.
Pinochet teria traído o Chile liderando o golpe militar e ao mesmo tempo ajudando os Estados Unidos. Seu motivo principal era impedir a nacionalização dos bancos e das minas de cobre.
O golpe teve início na costa do Oceano Pacífico, na cidade de Valparaíso e a violência se espalhou fortemente pelo país em pouco tempo; país que agora Pinochet se auto declarava presidente-ditador chileno, o qual perdurou por dezessete anos. Seu governo é considerado o período mais autoritário da História Chilena. Havia campos de tortura no país sul- americano, liderados por oficiais
estadunidenses, alguns chilenos eram esquartejados, outros jogados de helicópteros. Muitos deles também sofriam de torturas sexuais, como, por exemplo, a ligação fios elétricos nas partes genitais dos homens e ratos nas partes íntimas das mulheres, além de treinar cães para estuprá-las.
Os números de mortos devido ao golpe a partir desse dia somam mais de 30 mil mortos, isso representa hoje, um percentual de 0,18% da população chilena. Resultado decorrente de um “patrocínio’’ americano.
Em 2001 também houve um 11 de setembro, o qual todos ao redor do mundo tem conhecimento e um certo sentimentalismo. Porém este teve apenas 10% de mortes em comparação ao “esquecido’’11 de setembro chileno. O atentado às Torres Gêmeas moveu o mundo, e fez a vida de todos os cidadãos ao redor do mundo parar. Seria isso justo? Essa pergunta pode ser esclarecida com um depoimento do Presidente Bush depois do ataque. “Em 11 de setembro, inimigos da liberdade cometeram um ato de guerra contra o nosso país e, à noite, o mundo era outro, um mundo onde a própria liberdade estava sendo atacada”.
Essa frase, acima de toda a fraternização que nos passa, demonstra um paradoxo demasiado devido ao fato de que ao mesmo tempo em que o presidente descreve o que fizeram com eles, descreve também o que os norte-americanos fizeram com o Chile.
De hoje em diante, quando chegar setembro, podemos refletir não só sobre o World Trade Center, mas sobre todas as vítimas do golpe militar no país mais comprido da América do Sul, o país da Cordilheira dos Andes, do deserto do Atacama, das vinícolas famosas e acima de tudo, do povo guerreiro e democrático que apesar das circunstâncias, obtiveram força para reconstruir sua nação do zero.
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