Angola: Nossa Sociedade
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Angola: Nossa Sociedade



Belarmino Van-Dúnem

De casa para o trabalho e vice-versa é uma tristeza. O caminho está infestado, fezes por tudo quanto é lado, de todos os feitios, tamanhos e cores, é um autêntico multicolor. Algumas são arredondadas, outras compridas e até há as bolinhas. Castanho, castanho claro com pinguinhos vermelhos e, às vezes, verdes. Parece que alguns estão mesmo doentes, aquilo ocupa todo perímetro do caminho.
Cada cidadão arranjou a sua moda para passar ali. Eu passo de pés de bico com passos largos, mas há outros que vão aos pulinhos, as mamãs, por sua vez, apenas conseguem fazer ziguezague, cada um tem a sua astúcia para não pisar no material. Enquanto uma mão leva a pasta, a outra vai para o nariz, "eh pa, aquilo fede bwé". Mas como é que os nossos citadinos agora atendem o chamamento da natureza só assim? Um à frente do outro, uma dica daqui, outra de lá, tudo debaixo da luz do sol. Outra vez, escutei uma amena cavaqueira. Pareceu-me mulher e marido, ela tinha ido acompanhar o outro. É estranho, mas o cavalheiro estava de cócoras, gemendo e dando explicações de forma exaltada. Alguns porcos estavam na expectativa para fazer o reconhecimento do espólio ali deixado. Noutro dia, o meu vizinho me deu um kandandu, mas também estava a vir ali de baixo. Eu sanei a mão e continuei atento porque podia transportar algo na sola do sapato. O que será que ele estava ali a fazer? Pucha… Assim não há entidade que consiga limpar nem micróbio que não consiga viver. Agora então que a chuva está a chegar, eh…
O chamamento da natureza, na sua versão menor, já não é constrangimento para ninguém. As senhoras? Eh…, tapam com o pano, só dum coro e, é ali mesmo debaixo da nossa barba. O caudal de água escorre consoante a inclinação do terreno sinuoso, eu próprio tive que dar uma saltada com agilidade para não acabar com os sapatos descolados pela humidade. Ora essa…, então já não há pudor? Até me lembrei dos meus tempos de canuco. Assim não há valores que resistam. Os companheiros então… nem vale a pena, saem do carro, tiram a mangueira e não se dão ao trabalho de ver para o lado, é mesmo ali. Às vezes é na roda do carro do outro que está lá dentro com os miúdos à espera da dama que foi às compras, mas vamos fazer mais como? É só fechar os olhos e continuar a procura da fuba para as crianças. Mas se cada um fazer a sua parte tudo pode melhorar porque afinal tudo não passa de saber ser, saber estar e saber fazer.



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