Ainda sobre Bo Xilai e o retorno da Revolução Cultural
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Ainda sobre Bo Xilai e o retorno da Revolução Cultural







por Fernando Marcelino

O que explica a empresa oficial evitar qualquer comentário sobre o afastamento de Bo Xilai da liderança do Partido Comunista (PCC) em Chongqing? Para aqueles que se arriscam a dizer algo na mídia ocidental é comum encontrar primeiramente uma grande dificuldade de caracterizar o próprio Bo Xilai. Ele costuma ser chamado ao mesmo tempo de “conservador”, “radical”, “reformista”, “esquerdista”, “populista” e “neomaoísta”. A confusão é geral. É claro que é muito difícil saber o que está realmente acontecendo, mas podemos especular um pouco mais.

Líder de um município com mais de 30 milhões de habitantes com uma área maior que a Bélgica e a Holanda juntas que vivem um amplo crescimento econômico, como os 16% em 2011, Bo Xilai era candidato a um dos noves lugares do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, cuja composição será decidida no XVIII Congresso do Partido. Uma nova geração, encabeçada pelo atual vice-presidente, Xi Jinping, assumirá a liderança do país para a próxima década. Tudo parecia correr bem, mas aconteceu um revés extremamente inesperado nessa transição que parecia “pacífica e harmônica”. Um dia depois de o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao ter advertido que "uma tragédia histórica como a Revolução Cultural poderá voltar a acontecer", num alerta que parece visar a "cultura vermelha" sob a liderança de Bo Xilai, foi anunciado seu afastamento do comando do PCC em Chongqing. Ficou claro que os ecos da Revolução Cultural ainda soam na China.

Uma primeira lição sobre a queda de Bo Xilai é que na China ainda existem conflitos em torno do legado de Mao Zedong. O melhor exemplo desta linha política foram os chamados à mobilização popular com canções maoístas (“chang hong”), o envio de milhões de  mensagens por celular com citações do livro vermelho de Mao, fazendo retornar o fantasma revolucionário da Revolução Cultural dos anos 60. Até as propagandas foram substituídas por “programas vermelhos” com novelas narrando histórias revolucionárias. Como disse Bo, o sistema de valores socialistas centrais é o rejuvenescimento da alma, a essência da cultura socialista avançada e determina a direção para a frente do socialismo com características chinesas.

Dessa forma progressivamente começou a se expandir o medo de parte de certos setores do Partido de que o “modelo Chongqing” pudesse despontar como uma alternativa de desenvolvimento chinês futuro. Com sua ênfase no retorno dos valores revolucionários de Mao, Bo se tornou o alvo daqueles que estavam descontentes com a campanha anti-corrupção e seus excessos relacionados ao legado da Revolução Cultural. Assim ele fez muitos inimigos dentro e fora do Partido, dentre a oposição de Hu Jintao.Talvez umas das razões dessa oposição de Hu Jintao a Bo tenha aumentado quando em junho de 2011 Bo enviou a Beijing centenas de cantores das “músicas vermelhas” sendo considerado como uma afronta ao Comitê Central.  Afinal, o dirigente de Chongqing abandonaria o tom de reforma e abertura de Deng Xiaoping para abarcar uma política calcada na revolução cultural maoísta? 

Agora a coisa se torna mais complexa. O estilo "neomaoista" do ex-lider de Chongqing possui muitos admiradores. Alguns dos sites dessa corrente neomaoísta foram bloqueados na internet, como Utopia e a Bandeira de Mao. Moradores de Chongqing que costumavam se reunir em praças para cantar canções revolucionárias foram instruídos pela polícia a abandonar o hábito para não “incomodar” os vizinhos. O calendário das canções vermelhas foi cancelado. Um dos principais intelectuais neomaoístas, Sima Nan, teve bloqueada sua conta no weibo, a versão local do twitter. A ironia é que a censura agora atinge músicas consagradas pelo próprio Partido Comunista e seu líder máximo, Mao Zedong.
Será o fim do “modelo de Chongqing” ou o retorno da Revolução Cultural?
A situação está longe do fim. 

Fernando Marcelino é mestrando em Ciência Política pela UFPR e é internaciolista pelo UniCuritiba.




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