O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) apresentou parecer favorável à aprovação, com ressalvas, das contas da presidente Dilma Rousseff no ano de 2014. O relatório, assim, contraria recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), que, em outubro, rejeitou por unanimidade as contas da presidente. O texto de Acir deverá ser analisado até março pela Comissão Mista de Orçamento (CMO).
O relatório admite que as “pedaladas fiscais” do governo federal em 2014 (manobras contábeis para atrasar o pagamento de operações do Tesouro com bancos públicos) foram irregularidades, mas pondera que elas não justificam a reprovação das contas e nem constituem crimes de responsabilidade.
— O que foi feito não está de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas não é crime. Não houve contratação de crédito. Houve uma inadimplência, um atraso de pagamento do governo em relação aos bancos, mas, ao final do ano, o saldo era positivo — explicou Gurgacz. Ele também lembrou que a presidente não é a responsável legal pela execução das despesas orçamentárias, e que a prática das “pedaladas” já havia ocorrido em governos anteriores.
O senador faz ressalvas a essa prática, que, segundo ele, fragiliza a transparência da execução orçamentária e produz um excesso de compromissos financeiros futuros, que podem se converter em restos a pagar e afetar o Orçamento do ano seguinte. Nesse sentido, o relatório aponta que a presidente Dilma deve determinar que os órgãos competentes adotem medidas para aperfeiçoar a gestão. O cumprimento dessa recomendação será verificado na análise das contas do governo federal de 2016, segundo o texto.
Em relação a decretos de abertura de créditos orçamentários que Dilma teria baixado sem a autorização do Congresso, Gurgacz diz entender que todas as ações da presidente foram dentro da lei, e que a interpretação deles como irregularidade fiscal “não passa de equívoco”.
Jurisprudência
O senador afirmou que elaborou o relatório pensando não apenas nas contas de 2014, mas no precedente que essa análise poderia estabelecer para futuros governantes. Ele lembrou que foi apenas a segunda vez na história que o TCU rejeitou a prestação de contas de um presidente da República (a primeira havia sido em 1936, com Getúlio Vargas).
Segundo Gurgacz, as ações denunciadas pelo tribunal foram “readequações do Orçamento” que o governo federal precisou realizar devido a mudanças nas realidades econômicas interna e externa. Sem essa possibilidade, observou, chefes de Executivo em todos os níveis da administração pública teriam dificuldades para governar.
— Não é questão de aprovar ou não as contas desta presidente, mas de conduzir a gestão. Nosso trabalho analisa a jurisprudência que isso pode trazer para o futuro. Se nós não tomarmos cuidado, vamos engessar ainda mais as administrações públicas, sejam elas federais, estaduais ou municipais.
TCU
Questionado sobre a decisão de contrariar a posição unânime do TCU, que recomendou a rejeição das contas de Dilma, o relator da matéria lembrou que o tribunal é um órgão de assessoramento do Congresso e suas decisões apenas orientam a deliberação dos parlamentares, mas não precisam necessariamente ser confirmadas.
Gurgacz explicou que, durante a elaboração do relatório, também ouviu técnicos da Advocacia-Geral da União (AGU), do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e das consultorias da Câmara e do Senado. Além disso, consultou juristas. Todos esses interlocutores, segundo ele, se opuseram ao parecer do TCU.
— O TCU teve a sua posição e os demais órgãos e segmentos tiveram uma posição contrária. Não podemos esperar que só o TCU tenha a verdade. O contraponto tinha que acontecer, e aconteceu.
Para Gurgacz, a unanimidade no julgamento das contas pelo TCU foi fruto de uma “questão política”.
Oposição
O deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) compareceu à apresentação do relatório e criticou o texto de Acir Gurgacz. Para Sávio, a decisão de aprovar as contas presidenciais de 2014 é “repugnante” e prejudica a estabilidade institucional e econômica do Brasil.
— É um desserviço ao país e um serviço ao governo. É algo extremamente grave. Estamos rasgando a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Constituição. Para salvar uma presidente, ignoramos o país.
Prazos
Devido ao recesso do Congresso Nacional, o relatório só será analisado pela CMO a partir de fevereiro de 2016. Os membros da comissão têm até o dia 13 daquele mês para apresentar emendas ao texto. Depois disso, o relator terá 15 dias para apresentar sua posição sobre elas.
Uma vez apresentado o relatório final, a CMO tem 7 dias para discutir e votar a matéria. A decisão será tomada por maioria simples (16 deputados e 6 senadores). Pelo calendário atual, isso pode acontecer até o dia 6 de março. Após a votação, há prazo de 5 dias para encaminhamento do parecer da comissão à Mesa Diretora do Congresso.
Para a deliberação final, por maioria simples no Plenário do Congresso, o relatório será votado na forma de um projeto de decreto legislativo.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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