Mundão
A nova Turquia
(Texto originalmente publicado pelo periódico online O Estado RJ, em junho de 2010.)
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, emergiu no cenário internacional a partir da aliança com o Brasil na assinatura do tratado sobre o polêmico enriquecimento de urânio iraniano, mas se destacou ao condenar publicamente a operação militar mal-sucedida de Israel sobre o navio de bandeira turca, Mavi-Marmara, em maio deste ano, que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Este parece ser o momento de ascensão da Turquia regionalmente, fato que desperta a curiosidade do resto do mundo, e provoca temores ocidentais devido à possibilidade de realinhamento da política externa turca às suas origens islâmicas.
Apesar de a Turquia ser um Estado laico, seu atual governo, presidido pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento, de raízes islâmicas, parece aos olhos ocidentais ser responsável pelo início de possíveis problemas, como o voto contra as sanções ao Irã na ONU. Tema este mais polêmico do que o voto, também negativo, brasileiro. Isso se explica pelo fato de que a Turquia é parte daquela região e depende do gás fornecido pelo Irã; diferentemente do Brasil, que está na América do Sul, e pretende uma política externa independente visando à diversificação comercial.
Há cerca de 90 anos o fim do Império Otomano fez com que a Turquia, sua principal comarca, negligenciasse o restante do território do antigo império, voltando-se para o Ocidente. Na década de 1950, o país entrou para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um aparelho militar entre Estados anticomunistas constituído no início da Guerra Fria. Atualmente, a prioridade turca é a de ser membro a União Europeia (UE) e, para isso, o Estado estabeleceu, inclusive, acordos com Israel, como “contraveneno a um radicalismo islâmico”.
Entretanto, Erdogan está reformando o país, aparentemente realizando mais feitos que seus predecessores, e sua política externa revela novos rumos após a rejeição da entrada turca para a UE e após a ocupação do Iraque pelos ocidentais. Para os turcos, Erdogan propicia uma espécie de ascensão internacional, bem-vista aos olhos dos habitantes, de um país com importância relativamente pequena no mundo em relação às conquistas do antigo Império Otomano. Um novo orgulho nacional.
Para o Brasil, a relação com a Turquia é estratégica no sentido de se ampliar mercado e competitividade no exterior, ao servir como entreposto comercial devido à localização de seu território: parte na Europa, parte na Ásia. Dessa forma, a afinidade Brasil-Turquia tenderá a facilitar o acesso brasileiro aos continentes asiático, africano e europeu com a (ainda mantida) fama dos turcos de grandes mercadores regionais; além de a Turquia se constituir como um mercado importante, com cerca de 70 milhões de habitantes, e com um Produto Interno Bruto de mais de US$ 600 bilhões. E então, não vale a pena?
Alessandra Baldner
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