O Programa Nuclear Iraniano
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O Programa Nuclear Iraniano




Por Andrew Patrick Traumann*

O programa nuclear iraniano tem sido um dos temas mais debatidos nas Relações Internacionais nos últimos anos. Previsões apocalípticas de como seria o mundo com um Irã nuclear tem pipocado frequentemente na mídia. O problema é que essas notícias não são novas.

Em 1992,o atual primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu dizia que o Irã teria a bomba até 1999.  Shimon Peres disse o mesmo três anos antes. Isso foi há dezesseis anos. A verdade é que pouco sabemos sobre o programa nuclear iraniano,e é inevitável a sensação de deja vuquando ouvimos os tambores de guerra sendo tocados de forma tão semelhante ao que ocorreu antes da invasão do Iraque em 2003,com Israel,detentor de cerca de duzentas ogivas nucleares e  um dos mais formidáveis exércitos do mundo mais uma vez se apresentando como um país indefeso cercado por inimigos que querem destruí-lo,o que justificaria suas ações belicosas,mesmo  não havendo uma guerra entre Israel e países árabes há mais de trinta anos e que o Irã nunca em toda a sua história tenha iniciado um conflito,ao contrário, diga-se de passagem de países mais “racionais” e  “responsáveis” como  EUA e Israel.

O programa nuclear iraniano tem suas origens no início da década de 1970, quando o xá Reza Pahlevi decidiu que o Irã deveria ter a bomba  e se tornar o guardião dos interesses ocidentais na região. Quando o xá é derrubado pela Revolução Iraniana em 1979,o aiatolá Khomeini imediatamente suspende o programa que considerava “diabólico” devido ao seu alto poder de  destruição,sendo porém convencido a retomá-lo após o uso de armas químicas contra o Irã por Saddam Hussein no conflito Irã- Iraque. Tudo isso parece ter sido esquecido, fazendo parecer a muitos que o programa nuclear iraniano surgiu no governo Ahmadinejad, com o único objetivo de “riscar Israel do mapa”.

Não se trata aqui de defender o regime iraniano e sua postura provocativa que acaba por muitas vezes justificando as desconfianças do Ocidente, mas de tentar trazer a discussão para um plano mais racional, sem julgamentos subjetivos e com base em dados concretos. Segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica),o Irã possui urânio enriquecido a pouco mais de 20%,muito longe ainda dos 90% necessários para a construção do artefato nuclear,ou seja ao contrário do que Israel tem divulgado, o Irã, se quer realmente obter a bomba ainda está há anos de atingir tal objetivo,portanto há ainda espaço para negociações entre Irã, AIEA  e potências ocidentais que possam levar a um  acordo,como o obtido por Brasil e Turquia em 2009 e sabotado pelas potências ocidentais . 
Segundo o livro A Single Roll of Dice do analista político Trita Parsi recentemente publicado nos EUA, a Casa Branca enviou Lula e  o primeiro-ministro turco Recep Erdogan para o Irã,mas aguardava apenas mais uma resposta negativa de Teerã para anunciar novas sanções, sendo pega de surpresa pelo sucesso da missão brasileira e turca, que conseguiu fazer com que o Irã concordasse com um programa de troca de combustível nuclear.Desconcertados com o resultado, os EUA lançaram uma campanha na mídia contra Lula e Erdogan (que aliás encontrou eco na mídia brasileira mais conservadora)acusando os dois chefes de Estado de vaidade, megalomania e sentimentos antiamericanos e antissemitas respectivamente.

Ahmadinejad é um líder populista e seu discurso nacionalista e antiamericano faz sucesso entre seu eleitorado, basicamente as classes mais baixas que residem nas zonas rurais. A sua postura de “não se curvar aos interesses dos norte-americanos e sionistas” é basicamente para consumo interno e não deve ser confundido com o objetivo primordial do regime que é se manter vivo,e um ataque do Ocidente seria um verdadeiro presente para um regime cada vez mais questionado pela classe média urbana,pois seria a grande chance do presidente iraniano invocar o nacionalismo e conclamar a defesa da pátria,dever o  qual ninguém se negaria obviamente,não em nome  do atual governo,mas sim por suas vidas e famílias e por  um país extremamente orgulhoso de seu passado e cultura que remonta há mais de 2.500 anos de História.

No próximo artigo veremos quais seriam as prováveis consequencias de um eventual ataque ao Irã.

*Andrew Patrick Traumann é professor de História das Relações Internacionais no UNICURITIBA e doutorando em História,Cultura e Poder pela UFPR.




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