A intervenção militar na Libia: uma reflexão realista
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A intervenção militar na Libia: uma reflexão realista


Thais Scharfenberg

Quinta-feira, 17 de março de 2011: O Conselho de Segurança da ONU autoriza a imposição da zona de exclusão aérea na Líbia e a ação militar. Essa medida, aprovada pelos EUA, Grã-Bretanha, Líbano e França assustou muita gente nos últimos dias e provocou a indagação em relação à necessidade de tal decisão.
A intervenção militar não é bem vista em um primeiro momento. Se pararmos para pensar no porquê da intervenção, realmente descobriremos uma série de interesses que ultrapassam a simples defesa dos direitos humanos dos civis da Líbia e a luta contra o ditador Muammar Kaddafi. Mas seria muito utópico pensar que de uma hora para outra os países levariam em conta, em primeiro lugar, o interesse geral em detrimento de seus próprios interesses.


Antes de se criticar o uso da força, que se revela na forma mais pitoresca de resolução de conflitos, deve-se pensar nas conseqüências que a não-intervenção acarretaria.
A Líbia é o quarto país produtor de petróleo da África hoje. Quando Kaddafi chegou ao poder em 1969, as companhias petroleiras, em sua maioria americanas, extraiam mais de 2 milhões de barris diários. No entanto, desde a nacionalização do petróleo, a Líbia possui países europeus, entre eles Itália, Alemanha e França, como principais países importadores. Com a revolta, cidades importantes nesse contexto, como Bengazi, foram atingidas, atrapalhando a exportação do produto. Por mais que os países citados conseguissem administrar a situação do petróleo, a longo prazo uma crise seria inevitável e a alta dos preços atingiria diversos outros países em um efeito dominó. A Líbia também possui grandes reservas de gás natural. A necessidade de intervenção se torna clara quando analisados esses pontos, pois as medidas econômicas e políticas do próximo governo afetariam diretamente a Comunidade Internacional.
No decorrer do conflito, tornou-se nítida a natureza extremista de Kaddafi, mostrando que um acordo da parte do ditador em se retirar do poder está praticamente fora de cogitação, o que justifica mais uma vez a medida tomada pela ONU. A população da Líbia se queixava cada vez mais da pobreza e corrupção que assolava o país, além da indignação com as extravagâncias cometidas por Kaddafi e pelas pessoas de sua confiança.
Por outro lado, não se pode descartar a possibilidade de que, em um futuro próximo, o povo líbio enxergue a intervenção como mais uma invasão ocidental e acabem se unindo para defender o país, não por apoiarem Kaddafi, mas por patriotismo, como aconteceu com os iraquianos na invasão de 2003. A partir daí, as revoltas que estão ocorrendo em todo o Oriente Médio ficarão comprometidas e os inimigos do movimento poderão argumentar que o Ocidente manipulou a oposição às ditaduras.
Os Estados nunca estarão desprovidos do ‘’egoísmo’’ em suas políticas, porém, de acordo com o jornalista Gustavo Chacra, (http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/), seus interesses mudam de acordo com o cenário mundial, como os EUA que hoje estão ao lado do Líbano na decisão do Conselho de Segurança, mas não simpatizam com o atual governo libanês.
Antes de criticar o uso da força com olhos idealistas se faz necessário analisar todas as possíveis conseqüências da intervenção e da não intervenção. Em ambos os casos haveria perdas num amplo sentido. Resta saber em qual delas a perda seria menor e abalaria em menor medida nosso cotidiano, e para a surpresa de muitos, talvez a intervenção não seja tão ruim assim.

* Acadêmica do 5º período de Relações Internacionais do Unicuritiba e aluna de Iniciação Científica do Grupo “Comércio Internacional e Desenvolvimento Econômico” da mesma instituição.



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