Mundão
25 anos de Plano Cruzado
Patricia Tendolini
No mês de fevereiro “comemoramos” 25 anos de uma das experiências mais eufóricas e, em contrapartida, mais traumáticas de nosas economia: o Plano Cruzado. A data passou quase despercebida pela mídia em geral, mas certamente causa arrepios em muitos brasileiros ao ser lembrada.
Em janeiro de 1986, a inflação medida pelo IPCA mensal fora de 14,37% e no ano de 1985 havia se acumulado em 232,23%. O governo fizera, ainda sob o comando do Ministro Dornelles, uma tentativa ortodoxa de combate ao dragão da inflação (era assim que o tal “bicho de sete cabeças”era chamado) em 1985, sem sucesso.
O fato é que, na manhã de 28 de fevereiro de 1986, a população brasileira acordou com um pronunciamento do presidente Sarney, em que declarava congelamento geral de preços, congelamento da taxa de câmbio e reforma monetária com a substituição do Cruzeiro pelo Cruzado, dentre outras medidas. Argentina e Israel já haviam passado por experiências semelhantes, até aquele momento bem sucedidas, levando o então Ministro da Fazendo Dílson Funaro, a adotar o caminho heterodoxo de combate à inflação.
O resultado muitos conhecem: um estrondoso sucesso inicial a ponto de as pessoas se auto denominarem fiscais do Sarney e saírem às ruas fiscalizando e denunciando estabelecimentos que ousavam descumprir o congelamento. Entretanto, o aquecimento da demanda, o desabastecimento de alguns mercados, somados a outros fatores levaram a pressões inflacionárias, crescente insatisfação e, finalmente, fracasso do plano.
Sucederam o Plano Real os planos Bresser e Verão, ainda no governo Sarney; Collor I e Collor II, no governo Collor; e Real, no governo Itamar Franco. Foram novos congelamentos desastrosos, políticas de aperto fiscal e monetário e até mesmo confisco do dinheiro; mais de uma década de tentativas fracassadas e o convívio entre hiperinflação e baixo crescimento.
A data é emblemática uma vez que hoje, quando a inflação ameaça atingir o limite superior da meta (as previsões iniciais é que a inflação de 2011 chegue a 6,5%) já causa calafrios na equipe econômica.
Uma geração inteira, que hoje inclusive já integra o mercado de trabalho, não conviveu com os reajustes mensais (chegaram inclusive a ser diários) de preços: nunca viveu na prática o fenômeno da indexação, não vive a incerteza em relação a novas medidas do governo, é incapaz de imaginar os preços aumentando vinte, trinta por cento ao mês.
A importância da conquista da estabilidade não pode ser minimizada: ela permite aos investidores horizonte de planejamento, às pessoas previsibilidade em relação ao futuro, e ao governo a possibilidade de priorizar outros pontos da política econômica, como o crescimento econômico e a inserção internacional.
Patricia Tendolini é professora de Economia Brasileira e Introdução à Economia no UNICURITIBA
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