Mundão
O Novo Mapa do Pentágono
Fernando Archetti
E agora, qual é o adversário dos EUA? Depois da URSS, quem? Essas são algumas perguntas que Thomas Barnett, analista do Departamento de Defesa estadunidense, coloca em seu livro "Novo Mapa do Pentágono"(Berkley Trade). Partindo da premissa de que se precisa de novas regras para uma nova era, e que não havia ainda emergido um conjunto de regras que dessem conta das mudanças ocasionadas pela globalização e pela nova ordem do mundo pós-guerra fria, Barnett investiga essas questões.
Preparar-se para um eventual conflito com um grande inimigo, um Estado com capacidade militar similar, e impedir que este obtenha mais zonas de influência. Essa lógica do período anterior acabou, diz o autor.
Barnett acredita que, por muito tempo ainda, o Pentágono se manteve preso à mentalidade do período anterior. As coisas haviam mudado, as regras eram outras, ou perdido sua efetividade. No entanto, investia-se em um aparelho militar para enfrentar tradicionais guerras interestatais, contra grandes potências, os Big Ones.
A quantidade de situações novas, as radicais mudanças ocasionadas pelo desmembramento da URSS, as novas regras nas mais diversas áreas, as novas ameaças... , o ‘’caos’’, segundo termo cunhando no governo Bush (pai). A referência ao ambiente internacional como ‘’caos’’ era o que de mais próximo se tinha de uma visão compreensiva da nova realidade produzida pelo Pentágono (p. 2).
Para Barnett, o ‘’caos’’ era um mito – difundido pela mídia -, e refletia a falta de entendimento do mundo. Este estava mudando, e de um modo que não se compreendia, ainda. A globalização estava acelerando com ninguém no "volante" (p. 3).
Basicamente, durante os anos 90, os EUA estiveram em mais conflitos do que em qualquer época da década precedente da guerra fria. Não havia, porém, uma visão estratégica por trás dessas respostas a crises, incluídas, no Pentágono, sob a categoria ‘’military operations other than war (MOOTW).
Dessas respostas, porém, emerge um padrão, pois as MOOTW se davam em lugares específicos. Eram regiões à margem, diz o autor, da globalização. Países onde as regras da comunidade dos países efetivamente integrados à globalização não eram eficazes. A definição de perigo era, assim, a exclusão (p. 121).
O novo mapa do Pentágono não é um com dois extremos que se opõem. É um mapa que mostra que regiões estão efetivamente integradas e as que estão largamente excluídas. Barnett, assim, divide o mundo em duas regiões: core, países efetivamente globalizados, e gap, o oposto.
Se exclusão define perigo, prossegue, integrar essas regiões à comunidade dos países globalizados é a resposta. Apenas quando a globalização for de fato global é que se vai ter paz, o que pode ser associado às teorias liberais da Paz Democrática e da Interdependência Complexa.
As guerras interestatais chegaram a um fim, continua. Os novos inimigos são redes transnacionais terroristas, que buscam santuário em Estados excluídos. A violência foi transferida de Estados contra Estados para Estados contra pessoas. A competição interestatal, hoje, está muito mais em um nível econômico.
Em conclusão, afirma que apenas com a nova preempção, divulgada na National Security Strategy de 2002, é que surge uma visão compreensiva da realidade. Essa preempção justificaria a intervenção militar sem evidências de que um ataque seja de fato iminente.
Porém, a NSS não define as condições de uso dessa preempção.
Propor uma guerra perpétua para integrar o gap ao core, e que se baseia em um conceito obscuro (MARINELLO, 2005), arrisca arruinar o Estado. Barnett falha ao não levar em conta que as guerras devem ser breves, para que a cura não seja pior que a doença. Os novos conflitos tendem a se arrastar indefinidamente, e a mera coerção punitiva não resolve essas situações, torna-as, pelo contrário, mais complexas. Ademais, conectividade não é garantia de paz. O Japão Imperial, por exemplo, atacou a China, um de seus maiores consumidores, e os EUA, seu maior fornecedor.
Válida enquanto uma obra que busca, com algum sucesso, compreender a nova era e as novas regras, falha, porém, ao propor uma estratégia que, se seguida, poderia arruinar os recursos dos EUA.
5° período – Relações Internacionais - UNICURITIBA
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