Mundão
NOVO PRIMEIRO-MINISTRO DA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
Por: Belarmino Van-DúnemA conferência que decorreu em Brazaville, 23 Julho, sobre a reconciliação nacional na República Centro-africana teve efeitos estruturais no governo de transição dirigido pela Presidente Catherine Samba Panza. O objectivo era tentar ultrapassar as clivagens internas para que se possa dar um passo em frente rumo a paz definitiva.
Desde a queda do presidente François Bozizé em Março de 2013 que a República Centro-africana se encontra numa situação de instabilidade onde cada líder político procurar manter-se próximo dos grupos armados que se confrontam entre si. Neste momento os chamados grupos ex-Séléka tem se confrontado tanto com as forças governamentais como com os grupos anti-Balaka, compostos maioritariamente por elementos que pertenciam ao exército nacional antes do último golpe de Estado.
Os grupos ex-Séléka estão sob comando de três homens, o ex-presidente da República Michel Djotodia. Chegou ao poder na sequência do golpe de Estado perpetrado pelo grupo rebelde Séléka de maioria islâmica, mas foi obrigado a abdicar devido a pressão internacional. Para além de Djotodia, se destacam também Dhaffane e Gazan-Betty que vão liderando elementos armados, em alguns casos os seus soldados confrontam-se para dominar determinadas áreas consideradas estratégicas. O controlo dos grupos rebeldes é deficitário, inclusive existe uma certa autonomia e relutância dos soldados que já manifestaram a sua insatisfação relativamente aos seus líderes, acusando-os de se aproveitar dos mesmos para alcançar benefícios políticos.
Apesar de toda a dinâmica internacional e da presença de forças estrangeiras no terreno, a RCA se transformou num verdeiro campo de batalha onde vários grupos defrontam-se de forma indiscriminada. Nas últimas semanas se verificaram confrontações entre grupos que partilhavam os mesmos ideais no início do conflito. O objectivo principal era ganhar terreno para estar melhor posicionado nas negociações que levaram ao novo governo de transição.
As expectativas não foram alcançadas, uma vez que a exoneração do anterior primeiro-ministro fazia crer que a Presidente Samba Panza iria ceder as pressões internas e colocaria como primeiro-ministro uma personalidade próxima ao grupo ex-Séléka ou, no mínimo um cidadão muçulmano.
Mas depois de várias negociações e de se encontrar a acomodação do então primeiro-ministro demissionário, no passado dia 10 de Agosto, domingo, a Presidente Samba Panza convocou a imprensa para apresentar o economista Mohamat Kamoun como o novo primeiro-ministro.
O actual primeiro-ministro é tido como próximo da Presidente Samba Panza, tendo sido apontado como um dos impulsionadores da Presidente para os cargos de destaque na política. Foi sob influência de Mohamat Kamoun que o Presidente Michel Djotodia, no poder depois do golpe de Estado perpetrado pelo grupo Séléka, nomeou Samba Panza para exercer o cargo de governadora da cidade de Bangui em Junho de 2013. Várias fontes afirmam que o casal Kamoun fez parte da entourage que fez os lóbis para eleição da actual Presidente da República Centro-africana.
O novo primeiro-ministro do governo de transição da RCA esteve sempre próximo ao poder desde os tempos do Presidente Fronçois Bozizé. Entre 2000 e 2006 ocupou vários postos no ministério das finanças. As suas ligações fora da RCA aconteceram depois de se tornar membro do Conselho da Administracção do Banco de Desenvolvimento da África Central, consta ainda no seu curriculum uma passagem pela universidade de Boston, nos EUA, onde terá obtido um diploma superior em Economia do Desenvolvimento no final de 2007.
O ex-Presidente Michel Djotodia nomeou-o director do seu gabinete, mas mesmo com esse estatuto, o actual primeiro-ministro da República Centro-africana não escapou. Por várias ocasiões, a casa de Mohamat Kamoun foi pilhada e esteve sob ameaça de morte, para além de ter sido interrogado pelas forças do grupo Séléka. A presença do actual primeiro-ministro no governo do ex-Presidente Djotodia tinha como principal objectivo granjear a simpatia da Etnia Runga, grupo maioritário da região de Ndélé, Kamoun é membro do sultanato, portanto, com influência directa sobre o grupo.
O primeiro-ministro da RCA tem a árdua tarefa de colocar termo a violência sectária no país, proceder a reunificação nacional, preparar as eleições legislativas, presidenciais e locais antes de 2016. Na liderança de um governo com várias sensibilidades e com a ausência das principais figuras do grupo Séléka que já prometeram boicotar o novo governo, a tarefa nos próximos meses não está facilitada.
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