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Bundestag, Parlamento Alemão, em foto tirada ontem à noite |
Na cidade desde ontem, passamos pelos principais pontos históricos e políticos na zona central de Berlim ainda à noite, quando chegamos. Com pouco tempo para fazer uma boa visita mais do que a um museu durante o dia de hoje, ainda mais com a entrevista que daria à tarde à rádio online suíça PokeRT FM, escolhemos o DDR Museum. Idealizado em 2004 e aberto ao público pela primeira vez em 15 de julho de 2006, seu mantenedor, o instituto homônimo DDR Museum, orgulha-se de não manter suas atividades com dinheiro público. Nem um único centavo. Sustenta-se apenas com o valor das entradas de preços, aliás, super baixos: 6 euros para adultos e apenas 4 para estudantes.
A exposição permanente, situada às margens do Rio Spree, conta um pouco sobre a história da República Democrática (Comunista, na verdade) Alemã - mais conhecida como Alemanha Oriental. Logo que entrei, tive a impressão de que a visita seria rápida: o espaço parece ser bastante pequeno logo que se entra e o visual é muito moderno. Perguntei à recepcionista qual o tempo total necessário para conhecer o museu e a resposta supreendeu: duas horas, no mínimo.
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Na Alemanha Oriental, ao contrário do que pensava a população, o governo achava este jeans bom... |
Acontece que, apesar de não haver salas em outros andares além dos dois ambientes grandes em um subsolo que compõem o museu, ele é totalmente interativo e com muitos diferentes subtemas a explorar, seguindo a tendência dos museus mais modernos no mundo. A participação do visitante é fundamental para que a experiência seja proveitosa. Desta forma, logo na entrada sentei dentro de um Trabi (carro totalmente projetado e produzido com tecnologia da Alemanha Oriental) para, depois, sentar a uma mesa de som igual à utilizada pela juventude rebelde dos anos 70, que sofria repressão do governo por gostar de rock e blues; tocar nas roupas da época e ver que apenas o jeans produzido na Alemanha Oriental (não o americano) era considerado bom; entrar numa cela de prisão que replica as originais, que encarceraram mais de 250 mil presos políticos em um país em que a liberdade de expressão não era tolerada.
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...e esse, norte-americano, não. |
Além da necessária narrativa histórica, com a apresentação dos fatos todos que levaram ruína do país antes totalitário, desde 1949 até a construção (1961) e subsequente queda (ou, melhor, destruição) do Muro de Berlim, em 1989, o museu traz muitos fatos curiosos, que eu não conhecia. Destaco dois:
Muitos alemães orientais eram adeptos contumazes do nudismo e 80% deles declararam já ter ficado sem roupas em público, principalmente em praias. Mais do que um símbolo de liberdade sexual (ou, mesmo, na maioria das vezes, ao invés disso), a prática do nudismo era na realidade uma forma silenciosa e pacífica de o povo demonstrar que não aceitava a imposição de tudo aquilo que o governo lhes impunha. Bem que os comunistas tentaram impor também, por meio de lei, fiscalização e punição de quem praticasse o nudismo. Um fim à atividade, pois. Em vão: o nudismo permaneceu durante muito tempo uma prática extremamente comum no país.
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Alemanha Ocidental venceu a Copa de 1974, apesar de ser derrotada pelos vizinhos na primeira fase: "Ende gut, alles gut?" |
Segundo fato curioso: uma única vez na história das Copas, as duas Alemanhas enfrentaram-se em uma partida de futebol. Foi em 1974, na própria Alemanha Ocidental. A vitória foi dos comunistas, por um a zero, e a festa na Alemanha Oriental foi indizível. Como diz o provérbio alemão, porém,
Ende gut, alles gut (algo como, se o resultado final for positivo, então está tudo bem; no português temos o mais equivalente de que me recordo agora, "tudo termina bem no fim; se não terminou bem, é porque o fim ainda não chegou"). Na final da Copa do Mundo, a Alemanha Ocidental sagrou-se vitoriosa sobre a Holanda, que vinha de uma vitória sobre a própria Alemanha Oriental na semi-final.
Ende gut, alles gut!
E fora dos esportes, Ende gut, alles gut? Infelizmente, não. A história dos alemães orientais, hoje integrados totalmente à Alemanha ocidental, e o próprio país com a capital reunificada, realmente deram um final feliz e democrático a uma triste história de totalitarismo, repressão e violação sistemática dos direitos humanos de todo um povo. Esse final feliz, porém, não significa que "tudo está bem". Os erros do passado não podem ser esquecidos e jamais serão justificados. A penúria por que passou um povo oprimido por um regime injusto e que lhe tolhia todas as liberdades infelizmente ainda persiste em países como Coreia do Norte e Cuba - e, com assustadora frequência, também ameaça sistemas políticos tidos como democráticos.
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Trabant, produzido na Alemanha Oriental: apesar do sim- pático apelido de Trabi, virou símbolo de uma indústria que não conseguiu superar a vizinha capitalista. |
Quem visita museus como o DDR Museum tem dificuldade em entender como haja ainda quem defenda tão nefasta ideologia como o comunismo. Não só livros e relatos desmentem as propaladas promessas de bem-estar futuro de ideologias totalitárias. Museus como o que visitei hoje com meu amigo Claudio Damin dão a oportunidade de
vermos,
ouvirmos e até mesmo
sentirmos na pele, ainda que em uma fração infinitesimal, a triste situação vivida pela sociedade alemã oriental entre 1949 e 1989.
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