Carta ao povo de Marte
Mundão

Carta ao povo de Marte


Trabalho desenvolvido na disciplina de Análise das Relações Internacionais sob orientação da Professora Jaqueline Ganzert, em que todos foram convidados a escrever análises satíricas sobre períodos históricos. Em votações "as cegas" nas turmas, os textos foram selecionados para o blog.






*Paula Belotto André

A Carta, de Belatrix Mundusnovus.

Caros concidadãos marcianos,

Posta a inegável indispensabilidade de realizar um registro inicial da enorme descoberta feita pelo excelentíssimo grupo de exploradores galácticos, venho por meio desta carta informar-lhes sobre o planeta azul que encontra-se em terceiro grau de proximidade ao sol, o qual batizamos de Barbarium.
Assim como imaginávamos, a biodiversidade e a multiplicidade de seres vivos que habitam o planeta é assombrosa. Entretanto, acreditávamos que encontraríamos uma natureza intacta, infelizmente, nos deparamos com um gigantesco nível de áreas depredadas, muitas das florestas que nossas pesquisas científicas haviam previsto foram substituídas por construções arcaicas e de aparência muito desgostosa, além disso, a água, que pensávamos deter as tonalidades do azul ou verde, encontra-se majoritariamente tingida de um tom muito estranho, tendo como habitantes animais aquáticos e também dejetos e objetos estranhos, não sendo possível identificar qual sua utilidade neste ambiente, todavia, acredita-se firmemente que os oceanos não estariam sendo usados como depósito de lixo, pois nenhum ser vivo seria tão estúpido de o fazê-lo.
Seguindo as pesquisas dos teóricos Afrus e Indigenus sobre habitantes galácticos, o planeta Barbarium teria uma espécie de ser vivo detentora de nível médio/alto de racionalidade: os autointitulados “seres humanos”. Tendo em vista o contato empírico adquirido durante a jornada ao planeta aqui discutido, tais teorias tornam-se ultrapassadas, os Egocentricóides, nome atribuído após o contato e profunda investigação da espécie, seriam, na realidade, detentores do nível dois de racionalidade, segundo o medidor de Racionalidad Superioris (zero
à dez).
Tais seres organizam-se ainda de forma muito primitiva. Primeiramente, os supracitados organismos vivos complexos ainda utilizam-se da classificação de gênero, considerando os órgão genitais como definidores de seu papel social e de um comportamento padrão pré-estabelecido. Além disso, muitos desses seres consideram que o local que habitam, a língua que utilizam para comunicar-se e a aparência estética os tornam superiores aos demais, não compreendendo que todos fazem parte da mesma espécie, fato que nos surpreendeu muito, despertando até mesmo pena por tamanha ignorância.
Maior choque veio quando descobrimos que os Egocentricóides detém uma orientação predatória para com os outros seres de sua espécie, diversos exemplos podem ser utilizados: escravizam uns aos outros para a produção de roupas, máquinas, eletrônicos e demais objetos, sendo tais artefatos, posteriormente, adquiridos, guardados e descartados, em um ciclo desenfreado e patológico; proíbem seus cobarbariuns de adentrar certas áreas, pois acreditam que a divisão político-jurídica de território é mais importante do que uma livre circulação de seres, muitas vezes, utilizando-se da força e da violência física e moral para inferiorizar pessoas que habitam outros espaços limitados por linhas imaginárias; apesar de um alto nível de produtividade alimentar e da grande possibilidade oferecida por seus recursos naturais, deixam que muitos seres desfaleçam por falta de alimento, água e outros fatores indispensáveis para a sobrevivência.
Entretanto, nada nos desestabilizou e surpreendeu tanto quanto descobrir que tais seres ainda utilizam-se da guerra para solucionar problemas e divergências, tendo os Egocentricóides enorme dificuldade para realizar uma real comunicação uns com os outros, desconfiamos que esses seres detenham sérias falhas no aparelha auditivo. Com o fim de dirimir disputas são utilizadas máquinas e aparatos que causam enorme destruição e, pasmem, acabam com a vida dos próprios habitantes de Barbarium, sim, este povo desenvolveu máquinas que causam sua própria destruição, ainda estamos tentando investigar quais seriam os fatores causais para este comportamento doentio.

Finalmente, além de aterradoras descobertas que destroem as teorias sobre a avançada racionalidade dos habitantes do planeta azul, descobriu-se que tal povo não preza por sua reprodução e nem pela permanência da espécie no planeta, tendo em vista que não direcionam suas ações de forma compatível com a possibilidade de existência de gerações futuras, poluindo seus recursos, evitando a comunicação efetiva, criando delimitações jurídicas e políticas prejudiciais ao seu próprio desenvolvimento, produzindo artefatos desnecessários, e, mais do que isso, determinando a finitude da vida de seus cobarbariuns. Em nossas últimas pesquisas descobrimos que tal comportamento gira em torno de um conceito ainda estranho pra nós: chamam-no de poder. 

* Paula Belotto André é graduanda do 7° período curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.
** FONTE da imagem: Latuff



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